Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

MENINA-MOÇA

(Para minha Preta)


Saio do consultório atrasada para buscar minha filha no colégio. O trânsito não coopera e o tempo do relógio, implacável, não para.
Os quinze minutos de atraso geram, com tom impaciente, a mesma pergunta: - o que aconteceu mãeee? Nos segundos seguintes para a resposta, penso em todas as mães que trabalham fora para realizar seus próprios desejos depois, é claro, daqueles que concretizam para suas filhas.
Jornadas duplas, triplas enfrentando filas em ônibus, bancos, shopings, supermercados. Salas de espera de dentistas, médicos, terapeutas. Muito mais que quinze minutos aguardando a aula de inglês, natação, vôlei, tênis, terminar. Na porta da casa do colega onde foi fazer um trabalho, do cinema no shoping com os amigos, nas festinhas com a galera.
Mãetorista de todas as horas e haja horas, nesse relógio que cronológico só tem vinte e quatro horas, mas num outro tempo se estica e desdobra através da mágica materna.
- O que você acha? - é minha resposta. Ela já bem sabia, mas com a inocência “malvada” de toda criança, transforma sua resposta, numa questão quase genuína: - consultório???
Chegamos em casa e com aqueles quinze minutos devorando minha hora de almoço vem um chamado: - maeeeeee, vem cá no banheiro! Rápido!
A imagem de uma pequena mancha com cores borradas, em sua calcinha, faz o meu relógio interno desregular: anda para trás, quando da emoção de saber que estava grávida de uma menina e arruma-la feito uma boneca, com direito a laço colado com sabonete na penugem de sua cabeça. Das paredes da casa pintadas com meus batons; da escuta, tão aguardada, da palavra mãe.
Anda bem para frente, ficou moça e um dia se tornará mãe. Meus olhos se enchem de emoção, minha boca escancara um sorriso e lá do fundo d’alma sai uma única palavra, pintada com as cores do arco-íris: filha!
Filho é um serzinho adorável e todo seu, que um dia, de repente cresce e passa a ser todo dele!
Queria que os ponteiros tivessem parado para poder ficar ali pertinho, da minha menina, agora moça. Mas, eles insistiam em rodar me chamando para o trabalho.
Queria ter ido à drogaria e descoberto, com ela, que agora existem absorventes “teens” , como os band-aids coloridos com bichinhos que outro dia mesmo, colocava em seu joelho ralado de menina sapeca.
Queria ter ligado para a avó, tias, madrinha e contado que ela começava sua jornada de moça, nos dizendo com isso que os ponteiros do relógio da vida não param.
Retornei ao consultório pontualmente para a primeira sessão, mas absolutamente atrasada na minha emoção.
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2 comentários:

  1. Regina....

    quanto tempo faz que te falei que entraria no teu blog... osponteiros não apram e por tudo o que tu dissesse em vários textos, não tive tempo até hj... Carnaval, de repente relaxar e descansar...nem sei mt como é isso...consegui entrar no teu blog e, as lágriams correm dos meus olhos, lendo Meniná-Moça. Lembro nós duas sentadas no refeitório, tu bem barriguda e conversando sobre o dia que a Dani ia nascer!!!! O tempo passa... Tô adorando tudo!!!! Parabéns!!!

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