Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

CARNAVAL EM SANTA MATILDE


Fui com meus amigos Syl e Zé Renato passar o carnaval na fazenda deles, que fica em São Brás do Suaçui. Difícil colocar palavras num lugar que exala harmonia a cada olhar: o vaso de orquídeas, bem no centro da sala de visitas, nos recebia junto à alegria de Scott – um fila cego de um olho, mas como diz o ditado é rei nessas terras.
Éramos quarentonas, cinquentonas, sessentonas e oitentonas, alvoroçando o pobre do Zé que, hoje, se torna uma ótima idéia= 51 anos!
Tia Tatá bem cedinho, até a hora de deitar, assistia às missas na tv e ia assim nos abençoando e pedindo perdão para nossos pecados carnavalescos: gula, cervejinha e caipirola (feita com acerola colhida ali, no pomar), muitas risadas advindas de bobagens da mais pura alegria.
D.Letícia bem humorada não se cansava, e em pé – por gosto mesmo - na lavação da louça me ensinou que contrariar vontade de marido é coisa do passado e do seu presente com quem convive.
Júnia habilidosa e artista botou de fato a mão na massa e deu uma arrancada na “nossa” capela.
Syl que nem kinder ovo, uma surpresa diferente a cada dia, fez até broa de fubá, que não cresceu – essa marca de fubá, Zé!
Eu fiz, da grama atrás da casa, minha praia. Até areia, conchas e banho de mangueira Zé arrumou pra mim. Sem nenhum constrangimento, que só mesmo anfitriões como eles nos deixam, ficava bem à vontade e colocava toda minha “gorda exuberância” a se bronzear. As colegas lá do outro lado da cerca, pastavam com visível inveja!
Entre uma conversa aqui, uma leitura ali, aprendi que existe chouriço doce, que tudo de bom.com.br é o cara perfeito, que depois de uma tempestade e os ovos de passarinho que estavam sendo chocados caírem do ninho, não tem mais jeito (sabedoria da mãe natureza), que a melhor fantasia é aquela que vestimos todos os dias, que a bateria nota 10 é sempre a alegria, que as mais belas alegorias e adereços são a diversidade da flora e da fauna, que não existe atravessamento quando o samba enredo é harmonia e que essa escola de samba tem nome e sobrenome: SANTA MATILDE DA VIDA!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

COMPUTADOR E SEUS PROBLEMAS

Como vocês já sabem, sou uma BIOS assumida. Estou tentando fazer parte da "evolução da espécie" e me tornar um dia uma PEUS. Recebi por email do meu amigo e cumpadre, Kleber, essa msg (desconheço a autoria) que me fez dar boas risadas, além de me lembrar das minhas dificuldades enfrentadas no manuseio de tal objeto. É quase Carnaval, então vamos entrar nesse "trem da alegria"=todentro. Espero que gostem.
Prezado Técnico,
Há um ano e meio troquei o programa [Noiva 1.0] pelo [Esposa 1.0] e verifiquei que o programa gerou um aplicativo inesperado chamado [ Bebê.exe ] que ocupa muito espaço no HD.
Por outro lado, o [ Esposa1.0] se auto-instala em todos os outros programas e é carregado automaticamente assim que eu abro qualquer aplicativo.
Aplicativos como [Cerveja_Com_A_Turma 0.3], [Noite_De_Farra 2.5] ou [ Domingo_De_Futebol 2.8], não funcionam mais, e o sistema trava assim que eu tento carregá-los novamente.
Além disso, de tempos em tempos, um executável oculto (vírus) chamado [Sogra 1.0] aparece, encerrando abruptamente a execução de um comando.
Não consigo desinstalar este programa. Também não consigo diminuir o espaço ocupado pelo [Esposa 1.0 ] quando estou rodando meus aplicativos preferidos.
Sem falar também que o programa [Sexo 5.1] sumiu do HD.
Eu gostaria de voltar ao programa que eu usava antes, o [Noiva 1..0], mas o comando [ Uninstall.exe] não funciona adequadamente.
Poderia ajudar-me? Por favor!
Ass: Usuário Arrependido


RESPOSTA:

Prezado Usuário,
Sua queixa é muito comum entre os usuários, mas é devido, na maioria das vezes, a um erro básico de conceito: muitos usuários migram de qualquer versão [Noiva 1.0] para [ Esposa 1.0] com a falsa idéia de que se trata de um aplicativo de entretenimento e utilitário.
Entretanto, o [Esposa 1.0] é muito mais do que isso: é um sistema operacional completo, criado para controlar todo o sistema!
É quase impossível desinstalar [Esposa 1.0] e voltar para uma versão [Noiva 1.0], porque há aplicativos criados pelo [Esposa 1..0], como o [ Filhos.dll ], que não poderiam ser deletados, também ocupam muito espaço, e não rodam sem o [Esposa 1.0].
É impossível desinstalar, deletar ou esvaziar os arquivos dos programas depois de instalados. Você não pode voltar ao [Noiva 1.0] porque [ Esposa 1.0] não foi programado para isso.
Alguns usuários tentaram formatar todo o sistema para em seguida instalar a [Noiva Plus] ou o [ Esposa 2.0], mas passaram a ter mais problemas do que antes (leia os capítulos 'Cuidados Gerais' referente a ' Pensões Alimentícias' e ' Guarda das crianças' do software [CASAMENTO].
Uma das melhores soluções é o comando [DESCULPAR.EXE /flores/all] assim que aparecer o
menor problema ou se travar o micro. Evite o uso excessivo da tecla [ESC] (escapar).
Para melhorar a rentabilidade do [Esposa 1.0 ], aconselho o uso de [Flores 5.1], [ Férias_No_Caribe 3.2] ou [Jóias 3.3].
Os resultados são bem interessantes!
Mas nunca instale [Secretária_De_Minissaia 3.3], [Antiga_Namorada 2.6] ou [ Turma_Do_Chopp 4.6], pois não funcionam depois de ter sido instalado o [Esposa 1.0] e podem causar problemas irreparáveis no sistema.
Com relação ao programa [Sexo 5.1] esquece! Esse roda quando quer.
Se você tivesse procurado o suporte técnico antes de instalar o [Esposa1.0 ] a orientação seria: NUNCA INSTALE O [ESPOSA 1.0] sem ter a certeza de que é capaz de usá-lo!
Agora.... Boa sorte!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

BIOS EM EVOLUÇÃO

Hoje, finalmente, consigo explicar como vocês podem postar um comentário para mim. Vamos lá, passo a passo: clicar na palavra comentário logo no final de cada texto, comentar como, selecionar perfil, selecione Nome/URL, escrever somente o nome, continuar, escrever o comentário, clicar em postar comentário, aparecerá uma verificação de palavras que você deverá digitá-las, após isso clicar em postar. UFA! Saberei assim que vc leu, se gostou ou não. Se não quiser se identificar é só selecionar na hora do perfil em Anônimo e tudo bem.... Evolução dá trabalho pessoal. Mas como Darwin eu continuo.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

CONSERVADA IV

Você está, hoje, tão jovial Tia Regina! Sabia que o significado dado para o adjetivo, através do seu olhar, de baixo para cima e de cima para baixo, era para dizer que eu estava aparentando uma pessoa jovem, nova. Mas jovial, segundo meu amigo Aurélio, é alegre, bem-humorado, espirituoso o que sou quase sempre e, especialmente, naquele dia não me sentia nada assim.
Esse tipo de elogio me fez pensar que, para ela, estou constantemente velha, além da dificuldade que geralmente todos, jovens e não tão jovens, tem em elogiar. Mas isso é assunto para outro dia.
Quando se é jovem custamos a descobrir o tempo. Jovem vive no espaço, sem tempo. E a descoberta do tempo pode deixar a pessoa destemperada.
Hoje, mais do que nunca, todo mundo quer ficar eternamente jovem, fugir, ludibriar o tempo. E dá-lhe ginástica, plástica, cremes, spa e angústia.
Quando o contorno do meu corpo começou a mudar, acreditei que era temporário como quando engravidamos e depois tudo volta ao seu devido lugar.
Invadi o guarda-roupa do meu filho com todas as peças que não me entravam mais. Fiz dietas, me esforcei mais nos exercícios físicos, clamei por ajuda médica (leia conservada I). Não tem jeito. A gente pode até ganhar essa ou aquela batalha, mas é uma guerra perdida. Já se passaram dois anos e só agora retirei minhas peças de campo, para alívio do meu filho.
O jovial valeu para que eu pudesse, não da boca para fora, valorizar as minhas conquistas, realizações profissionais e pessoais, meus amigos, minha inteligência, personalidade e o meu poder no sentido do eu posso.
Valeu também para perceber, com clareza, como sou muito mais centrada, autêntica e certeira no trato comigo mesma e com o outro. A gente passa a dominar os nossos pontos fortes e disfarçar o que não interessa mostrar. Se antes era escolhida, agora sou eu que escolho= http://www.todentro. Que estou interessada em absorver do mundo o que me parece justo e útil e simplesmente ignorar o que é baixo astral= http://www.tofora/. E isso é uma conquista só possível, quando não se é mais jovem.
Estou apaixonada pelo meu corpo atual. Meu rosto que já não é jovem denuncia, de maneira jovial, as histórias que me constituem.
Meu corpo fora de forma informa que está vivo e sente prazer. Prazeres que só são desvelados com a descoberta do tempo! Prazeres que sentimos quando não somos mais jovens e sim joviais.
Sei que essa paixão está se tornando um maravilhoso caso de amor!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

MARY PURA ALEGRIA



Um dos principais tópicos estudados na psicologia social contemporânea é relativo ao motivo por que alguém gosta ou não de outras pessoas. A importância prática e teórica dessa questão é óbvia. Nossas atitudes em relação às pessoas fazem com que um relacionamento com elas seja agradável ou desagradável, e ajudam a determinar se queremos intensificar ou mesmo continuar esse contato.
A gente faz amizades a partir de vários locais e de formas diferentes: na escola, no colégio, na faculdade, no clube, na academia, no salão e agora, no computador. É um entra e sai danado. Mas algumas ficam com a gente para sempre.
A Mary era minha conhecida do salão (ela é uma daquelas que tem a Madá). Fazia parte da turma da sexta e eu da quinta. De vez em quando, naquela época, a gente se encontrava. Quando mudamos de salão ficamos juntas na sexta. E aí de conhecida se transformou em amiga.
Tenho uma irmã com o mesmo nome dela (que eu amo de viver) e de ouvir meu filho, pequenininho ainda, falar na Tia Mary se tornou primeiro, a Tia Mary do salão quando me referia a ela.
Falar da Mary é fácil e difícil. Ela é daquelas pessoas que tem uma energia, um astral que só conhecendo mesmo. Sua disponibilidade é para tudo e todos. Se você precisa de qualquer tipo de indicação é só perguntar, que a Mary tem pra dar: ofertas imperdíveis, bombeiro, eletricista, estofador, motéis, truques domésticos, estéticos e cosméticos.
É casada há 28 anos com o Luiz Sérgio e aí começa o segundo e mais conhecido apelido dela: Santinha! O que ela já fez, faz e ainda fará com seu “maridinho” precisa dos seguintes ingredientes, que vieram de sobra no seu DNA: criatividade, originalidade, persistência, paixão e amor. Com suas histórias mata a gente de rir e de inveja.
Num Natal, ela deixou o Luiz Sérgio acreditar que tinha esquecido de comprar seu presente. Lá pelas tantas, ele já na cama, quase dormindo, ela - "beeeemmmm, acorda, seu presente chegou!
- Hummmm, cadê?
- Aqui, euzinha". E pula na cama “vestida” de papai Noel.
Dá pra imaginar a cena? Agora ela contando, com seu jeito peculiar de ser, só ouvindo mesmo!
Santinha agora tá empenhada na fantasia para o carnaval: coelhinha da Playboy. E enquanto percorre os sex shops da cidade, já se inscreveu, e instigou todas nós, num curso de streaptease, apesar de eu acreditar que a aluna vai roubar o lugar da professora.
Com a Santinha não tem tempo ruim, mau humor é www.tofora. Sua sensibilidade, carinho, nos pequenos detalhes e lembranças com os amigos, emociona qualquer coração de pedra. Na última sexta, ela sacou de sua bolsa, na maior simplicidade, e me deu uma base especial pras minha unhas que estão super fracas dizendo: – Rê, lembrei e comprei pra você. Fiquei emocionada. Mas muito antes disso, já tinha me passado uma receita/dica fantástica para a saúde das ditas cujas.
Amizade para mim é isso: cuidar nos pequenos detalhes, fazer rir, chorar junto, dar bronca, torcer, acompanhar as etapas da vida. Não precisa se falar, nem se ver todos os dias. Precisa de afinidade.
Já tem vinte anos que a gente vem cuidando e intensificando essa amizade. Por que cuidar é preciso.
A sexta-feira fica esquisita se Santinha não vai ao salão. Sinto falta do seu jeito maroto, da sua alegria, dos seus planos mirabolantes, das piadas e das muitas risadas.
Ela também tem problemas mas, assim como eu, escolhe a alegria, a felicidade e o bom humor para ficar www.todentro.
Ter uma amiga que nem a Mary, Tia Mary, Santinha é um espetáculo. Eu amo de viver! Mas não precisa ficar com inveja: o coração dela é tão grande e generoso que sempre cabe mais um.



AFINIDADE DE NOME MADÁ

Sempre gostei de fidelizar meus prestadores de serviços. O mesmo sacolão, açougueiro, salão, manicure, lojas. Cria-se uma praticidade e cumplicidade, que faz valer a pena se deslocar de um bairro até o outro.
Com o acúmulo de atividades e funções que fui adquirindo ao longo dos anos, além da mudança drástica no trânsito de Beagá, fui obrigada a rever isso. Confesso que, a princípio, resisti, mas fui vencida pela tal “otimização do tempo”. Só não abri mão da minha manicure.
Após meu casamento mudei de bairro, e com as novas funções adquiridas – esposa, dona de casa e mãe –ficou inviável freqüentar o salão da minha mocidade. No começo fiz as unhas com todas as manicures do novo estabelecimento, até me tornar fixa da Madá. Só podemos chamá-la de Madalena se quisermos caçar uma boa briga.
Ela sabia tirar meus cantinhos dolorosos, minha cutícula muito fina sem bifes, lixar com delicadeza a pele, que sempre requereu cuidado especial.
Iniciou-se então uma paixão. Toda quinta estava eu, entregando minhas mãos e pés aos cuidados de Madá. Mulher bonita, sorriso escancarado, corpão de deixar qualquer Sargentelli boquiaberto.
Formou-se através das clientes fiéis da Madá duas turmas: a de quinta e a de sexta. Fazíamos lanches, comemorávamos as conquistas, partilhávamos as dores e dissabores, confessávamos os amores, emocionávamos com as mudanças de algumas e enciumávamos com a chegada das novatas.
Do seu banquinho, trabalhando sem parar, nunca vi Madá destratar uma cliente, estar mal humorada, fazer um fuxico sequer. Já naquela época ela era, www.toforatodentro. Os anos se passaram, Madá trocou de salão e, por sua causa, mudamos com ela. A novidade, como sempre, gerou muito desconforto, necessidade de adaptação e requereu de todas nós a apresentação do “cartão fidelidade”, que só pode ser adquirido através do coração.
A turma da quinta se misturou com a da sexta e o que antes era uma “disputa” se transformou em amizade. Hoje, mais do que nunca, posso afirmar que Madá não é só uma manicure que sabe a arte de seu ofício. É um ser especial, iluminado e muito amada por cada uma de nós. Que da altura do seu banquinho, mais que deixar nossas mãos e pés maravilhosos, deixa nossos corações batendo mais forte!
Ainda bem que hoje é sexta-feira, Dia de Madá.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

ALEGRIA/FELICIDADE=todentro


Recebi um vídeo hoje do Rogerinho que me pareceu coisa encomendada. Como vocês sabem, para me manter “conservada”, faço ginástica a muitos anos numa mesma academia. A fidelização tem um nome: “Ratthão”. Professor quarentão, saradão, sempre bem humorado, prepara as aulas com carinho e competência. Depois de tantos anos juntos, já nos acostumamos com o entra e sai de alunos e com a maneira de ser de cada um. Somos amigos. Hoje saí incomodada da aula.
Malhar às 7h da matina não é fácil. Requer uma pitada, pelo menos, de bom humor para aguentar os abdominais, agachamentos, quatro apoios, alteres, caneleira, step, jump, corrida, ufa!!! Carrego além de toalha e garrafinha de água, muita alegria. Sinto que assim os exercícios ficam mais leves e que além de endorfinar o físico, a alma e o coração saem em forma.
Começo minha série com um sonoro Boooommm Diiiiiaaaa Flor do Dia, para as meninas da recepção que, ainda sonolentas, despertam sorrindo e me respondem que nem uma dupla sertaneja. Vou subindo as escadas no ritmo da música que já está tocando e brincando com os colegas que estão indo embora.
Na hora dos abominais faço a mulherada cantar: “gordurinha, gordurão, to te queimando de montão”, nos exercícios para trabalhar o peitoral digo - vamos lá meninas, hora de colocar o silicone no lugar e assim entre uma brincadeira e muitas risadas terminamos nossa hora na academia.
Descobri lá, que alegria incomoda. E bom humor irrita (Fernanda Young que o diga). Quando a Sônia soltou, tempos atrás, lá do fundo da sala em tom de brincadeira - Odeio gente feliz, às 7h da manhã!- comecei a perceber como é difícil estar alegre, feliz, sem motivo. Tem que ter alguma razão, depender das circunstâncias, ser resultado de um evento. Se não você é taxada de “doida”. E no meu caso então, está explicado: é psicóloga!
Claro que, como qualquer mortal, tenho problemas no trabalho, na família, nas relações, na vida. Muitas vezes fico de mal dela e, até fazermos as pazes novamente, prefiro ficar no meu cantinho. É uma escolha. Outros já se sentem no direito de espalharem seu mau humor, sua tristeza ou infelicidade em tudo e em todos.
Quase todos nós pensamos na alegria, na felicidade, como uma reação ao que acontece externamente, mas ela é na verdade um estado mental que tem muito pouco a ver com o que se passa à nossa volta.
Ouço todos os dias dos meus clientes, de que seriam completamente felizes quando conseguissem uma determinada coisa e vejo como se surpreendem ao constatarem, que ficaram insatisfeitos e infelizes quando aquilo que desejavam aconteceu. A viagem dos sonhos, a compra do carro zero, a eliminação das rugas, o emprego arrumado, o salário aumentado, dão uma alegria temporária, mas a emoção passa rapidamente e logo voltam a ser tão felizes ou infelizes quanto eram antes.
Fomos treinados para nos sentirmos mais à vontade com a infelicidade e a tristeza. Ninguém se irrita quando você está triste. São tão solidários... E ninguém acha que você está doido!
Por estranho que pareça, não estamos acostumados à felicidade, à alegria: às vezes ela incomoda, é como se não a merecêssemos. Então a escondemos, para não criar inveja, para não gerar perguntas.
Algo a respeito do significado da vida muda quando compreendemos, profundamente, que não vamos durar para sempre. Quando aceitamos como somos, com nossos limites e talentos. A vida é longa, mas o tempo é curto.
A felicidade, a alegria não depende tanto do que acontece quanto da maneira como lidamos com o que ocorre. Elas são determinadas pelo modo como percebemos, interpretamos e assimilamos o que acontece com nossas emoções. E a nossa forma de perceber as coisas depende de nosso empenho. Estamos empenhados em ver o pior ou o melhor nas pessoas e nas situações? Cada um que tome sua decisão.
Ratthão saiu de férias. Durante um mês estaremos com a nova professora, que apesar de bem nova, já se irritou com a minha alegria às 7h da manhã. Talvez um dia ela descubra que, para alcançar a alegria, só tem que fazer que o quando seja agora.
Assim que abri o computador para escrever isso, dei uma checada no meu e-mail e recebi esse presente que ilustra, sem palavras, tudo acima descrito. Rogerinho, Obrigada!!!

SHOW SURPRESA NO METRO DE LONDRES
Olhe o que aconteceu numa estação de metro de Londres.
Foi numa segunda feira de manhã, e todos foram trabalhar numa energia maravilhosa depois. São 70 bailarinos misturados com passageiros e esses acabam interagindo nas danças.
O "show" foi planejado e ensaiado durante 8 semanas, sem o conhecimento do público.

http://www.youtube.com/watch?v=VQ3d3KigPQM

Veja também o making off:

http://www.youtube.com/watch?v=uVFNM8f9WnI&feature=channel

A alegria é contagiante (?!). Eis a prova.






terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

MI NE VOLAS MORTI - Parte II

Sou chamada para atender no P.S. um paciente que “não fala coisa com coisa, está confuso, agitado”.
Chego e vejo, ao redor do leito, cardiologista, neurologista, enfermagem, residente. Como não havia espaço, pergunto pelos familiares e respondem que ele está só com um amigo que o trouxe. Vou procurar esse amigo para obter informações sobre o paciente e tenho como resposta que o acompanhante é amigo há pouco tempo e não sabe o que ocorreu.
Enquanto aguardo um espaço com o paciente vou lendo a papeleta admissional: Fred, 26 anos, chegou ao P.S. inconsciente e, como já era cliente do hospital, consta que é portador de miocardiopatia hipertrófica.
Quando percebo que a sala já se esvaziara e me encaminho para ela, ouço um colega dizer: “Oh Regina, vê se você consegue entender o que esse pitizento está falando!...”.
Num momento de urgência, tenso e temeroso pelo que se passa, o doente geralmente se depara com o desconhecido e sente-se profundamente fragilizado, ou mesmo, em alguns casos, perseguido, reagindo muitas vezes com grande agressividade. A hospitalização é frequentemente vivida em meio à ameaça de morte, caixa de ressonância onde repercutem as vicissitudes da demanda dos que sofrem – de imediato - na instituição hospitalar - a carência material e afetiva, o abandono, a solidão, a miséria humana da decadência física, que se apresenta desde os primeiros contatos.
Aproximando do leito vejo um rapaz encolhido, sonolento (havia sido sedado) e balbuciando algumas palavras incompreensíveis para mim: KORO, MI NE VOLAS MORTI. Digo a ele quem sou, que estarei ali ao seu lado para tentar ajudá-lo e que não estava compreendendo o que tentava me dizer. Só depois do efeito da sedação, quando acordasse, poderia tentar uma intervenção. Estou saindo do quarto quando ouço: ESPERO.
Respondo que esperarei o tempo que for preciso para conversar, mas naquele momento, ele iria dormir e logo conversaríamos. Fred esboça um sorriso tímido e fecha totalmente seus olhos.
Agindo com urgência, o médico pode alcançar eficácia em seu resultado sem levar em conta a causa, tratando o que está manifesto sem tratar a origem do mal, que poderá ser cuidada depois da urgência. No que concerne à psicanálise, inverte-se o procedimento: o psicanalista, na urgência, estabelece questões cuja finalidade é reintroduzir a dimensão do tempo e a consideração da causa. Reinstaura, assim, a possibilidade de o sujeito dizer o que desencadeou essa necessidade urgente de se livrar de uma dor, de um sofrimento, de uma angústia avassaladora ou mesmo de uma situação incômoda.
O psicanalista quer propor ao paciente fazer falar a urgência, colocá-la em palavras, apreciar o que as palavras transportam. O analista forma parte da urgência se quer que o paciente faça com ela um sintoma e não a expressão de uma panacéia. Intervém interrogando a situação. Trata-se aqui de coordenadas inversas: a ética médica exige que se selecionem as coisas por fazer, simplificando a situação, enquanto que a ética da psicanálise se interessa pela complexidade desta, multiplicando as coisas por dizer.
Volto para ver Fred que, apressadamente, começa a falar que já está bem, que precisa ir embora, que sua mãe está sozinha em casa, que o susto já passou... Vagarosamente repito para ele: ESPERO, KORO, MI NE VOLAS MORTI... Fred começa a chorar e a dizer.
Nietzche, ao meditar sobre uma dolorosa experiência de enfermidade pela qual passara, disse:
“... é assim que, agora, aquele longo período de doença me aparece: sinto como se, nele, eu tivesse descoberto de novo a vida, descobrindo a mim mesmo inclusive. Provei todas as coisas boas, mesmo as pequenas, de uma forma como os outros não as provam com facilidade. E transformei, então, minha vontade de saúde e de viver numa filosofia”.
O psicanalista, na urgência, trabalha para mudar o vetor de passagem ao ato eventual, para provocar o tempo de compreender, criando uma nova situação. Tentamos romper a trajetória que pressentimos, e que o sujeito afasta de um modo impulsivo, para que, nesse curto-circuito entre o instante de ver e o momento de concluir, possa ser instaurado o tempo de compreender.
A urgência em si seria não querer enfrentar o tempo de compreender, em que se convive com os sentimentos, com os pensamentos e com o acontecimento. Para evitar isso, submete-se à urgência de passar logo à frente, participar de uma atividade atrás da outra, sem intervalo.
Fred fala Esperanto, a língua universal, aquele que tem esperança. Suas palavras incompreensíveis, confusas ou “pitizentas”, eram a ESPERO=esperança de tudo que trazia através de seu sintoma e em seu KORO=coração.
O lugar e a ocasião, que asseguram senso de oportunidade às nossas intervenções, em princípio não deveriam estar marcados por mera segmentação das pessoas a partir de rótulos tais como queimados, cardíacos, politraumatizados, isolando grupos ou criando identificações e ou identidades. Como nos ensina Drumond “o problema não é inventar. É ser inventado hora após hora e nunca ficar pronta nossa edição convincente”.
Assim, respondi à pergunta do meu filho, dizendo que, como o analista não recua diante do real, deve transformar a urgência em possibilidade de fazer o sujeito falar de seu sofrimento, já que em sua posição ética o psicanalista sabe que o tratamento da psicanálise não escolhe lugar.
Venho aprendendo no hospital o que é a morte, a dor, a vida, a pulsão desregrada, como aprendo também que uma palavra ou frase escutada por acaso faz efeito no só depois: MI NE VOLAS MORTI=EU NÃO QUERO MORRER! Que há, sempre, um sujeito que age a partir de sua singularidade e não de leis gerais, mesmo falando uma língua universal.
*Conferência apresentada no V Congresso Brasileiro de Psicologia Hospitalar/Porto Alegre-RS

MI NE VOLAS MORTI - Parte I

A intervenção do psicólogo frente às situações de emergência em paciente cardíacos.

Durante muito tempo assistia, no canal a cabo 47, a uma série de nome E.R. Nela era mostrado o corre-corre de um hospital de emergência/urgência que atendia pacientes em situações de risco, sendo o Pronto-Socorro sua principal porta de entrada.
Um dia, vendo meu interesse constante, meu filho me lança uma pergunta à queima-roupa:
- Mãe, você atende esses casos no SOCOR? Tem jeito?
Adiei um pouco minha resposta e fui então procurar sobre a diferença entre emergência e urgência. Dos vários significados encontrados, primeiramente, no dicionário, escolhi estes:
*emergência: - situação crítica, acontecimento perigoso ou fortuito; incidente.
- nascimento.
*urgência: - que é necessário ser feito com rapidez;
- indispensável; imprescindível.
Fui ainda verificar os significados para a medicina e constatei que a primeira dúvida que assalta os profissionais é a definição do que vem a ser emergência e urgência médicas, uma vez que os pacientes recebidos nas salas de emergência dos hospitais são portadores de condições as mais variáveis. Essas condições, de acordo com a gravidade que apresentam, podem ser classificadas em termos de risco imediato, segundo o Prof. Dr.Mário López, nas seguintes categorias:
*rotina: o tratamento pode ser retardadom várias horas, sem que haja risco de vida aumentado ou de incapacidade. Não constituem, portanto, uma real emergência.
*urgência: o tratamento precisa ser iniciado dentro de poucas horas, pois existe o risco de evolução para complicações mais graves e mesmo fatal.
*emergência: a necessidade de manter as funções vitais ou evitar incapacidade e complicações graves exige que o início do tratamento seja imediato.
E segundo a Associação Americana de Hospitais, “emergência é qualquer condição que, na opinião do paciente, de sua família, ou de quem assumir a responsabilidade de trazer o paciente ao hospital, necessite de assistência médica imediata. Essa condição perdurará até que um profissional de saúde determine que a vida do paciente não está mais em perigo”.
Volto à pergunta do meu filho e ao corre-corre de um Pronto Socorro, considerando pacientes em situações de risco. Nesse caso, o paciente em si já constitui uma urgência, pois pede algo a alguém – ao médico – que tem algo a oferecer e que deverá fazê-lo com a maior rapidez possível, pois uma fração de segundo pode significar vida ou morte.
O saber médico é uma referência encontrada de imediato no hospital. Ele não interroga o paciente, ele se oferece ao paciente sem a ele se expor.
O saber psicanalítico é um saber particular, a ser constituído, endereçado e apropriado tendo em vista um paciente.
A urgência médica diz respeito a coisas por fazer – injeção no agitado, reanimação para o estado de choque, anticoagulantes para o enfartado – que implicam questões de sobrevivência, enquanto que, para o psicanalista, exige coisas por dizer, incluindo-se sempre o desejo para se definir o que é urgência.
A urgência, dirá a psicanálise, vem do Outro; com isso, ela desarma esse regime, à primeira vista, inabordável, de exigências sem limites, inadiáveis.
A urgência sabemos, impede recorrer à fala; assim, a psicanálise faz falar para que possa haver uma escuta do que é dito. Propõe em vez de fazer alguma coisa para atender a urgência, responder com uma certa escuta.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

CONSERVADA III

Hoje é sexta-feira, dia de buteco com os amigos, de alegria. Recebi umas piadas, que me fizeram rir muiiito e uma delas me lembrar da história da "conserva" lá do início do blog. Vai aí prá todos vcs, com um desejo de ótimo final de semana.
"A campainha toca na casa de um camarada muito pão-duro.
Quando ele atende, dá de cara com duas freiras pedindo donativos.
- Meu filho, nós somos irmãs de Cristo e...
- Nossa!!! Como vocês estão conservadas!!!
E a gente continua...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

AFINIDADE

Regina Rozenbaum
Fico pensando sobre algo que é muito falado e pouco analisado: a afinidade. A afinidade não é o mais brilhante, mas é, o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. O mais independente também.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que ele foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial.
É raro. Ter afinidade é muito raro. Mas quando ela existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Ela existia antes mesmo do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro de sua boca diante de alguém com quem você tem afinidade.
Afinidade é ficar de longe, pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar uma palavra. É receber o que vem do outro com uma aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com. Nem sentir “contra”, nem sentir “para”, nem sentir “por”, nem sentir “pelo”. Quanta gente ama, loucamente, mas sente “contra” o ser amado! Quantos amam e sentem “para” o ser amado e não para si mesmos?
Sentir com, é não ter necessidade de explicação do que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar. Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.
A afinidade é um sentimento singular, discreto e independente. Não precisa do amor. Pode existir quando ele está presente ou quando não está. Independe dele. Pode existir a quilômetros de distância. É adivinhado na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
A afinidade é singular, discreta e independente, repito, porque não precisa do tempo para existir. Vinte anos sem ver aquela pessoa, com quem se estabeleceu o vínculo da afinidade, e no dia em que você a vê de novo, prossegue a relação exatamente do ponto em que parou. É mágico. Afinidade é a adivinhação das essências não conhecidas nem pelas pessoas que as têm.
Além de prescindir do tempo e ser a ele superior, a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente. Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós, para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos sempre presentes.
Sensível é a afinidade e exigente apenas de uma coisa: que as pessoas evoluam parecidas. Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau nas pessoas. Porque o que define uma afinidade é a sua existência também depois.
Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado e anos após encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir restituir o clima afetivo de antes, é alguém com quem a afinidade foi temporária. E afinidade verdadeira não é temporária. É supratemporal. Nada tão doloroso do que contemplar uma passada afinidade, ou ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade. A pessoa mudou diferente, transformou-se por outros meios. A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas e plantios de resultado diverso.
Afinidade é ter estragos semelhantes e iguais esperanças permanecentes. Afinidade é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas, quanto das impossibilidades vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou, sem lamentar o tempo da separação. Porque ele (tempo) e ela (separação) nunca existiram. Foram apenas as oportunidades dadas (tiradas) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar. E para que cada um pudesse ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada e refletida do eu individual aprimorado!

*Inspirado por vários afins que habitam meu coração... E motivado a ir para o papel, pela delícia de um reencontro.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

SOBRE PAIS: DIREITOS E DEVERES – PARTE I

Regina Rozenbaum
Como estou, ainda, de “semiférias”, tenho visto mais TV que usualmente. Na recém estreada novela da rede globo, um tema vem chamando minha atenção.
Há um casal (segundo casamento do marido), que trata seu filho adolescente na base do “pode tudo”. Não há limites, punição ou qualquer outro tipo de intervenção, para as atitudes que o mesmo comete: atacar com uma latinha de cerveja um garoto negro, arremessar um estojo no rosto da professora, depredar bens públicos, espancar um colega na hora do recreio, se esconder, com a aquiescência dos pais, de um oficial de justiça.
Pai e mãe justificam esses atos como, “normal para um garoto da idade dele”, “pagamos um colégio tão caro, para que não consigam educar nosso filho!”
O que para nossos avós, pais, era estabelecido como “pode” e “não pode” por intermédio da autoridade incontestável exercida pelo chefe da família -o pai- parece ter desaparecido do cenário atual com repercussões na vida das pessoas e na ordem social. Essa mudança traz impactos também nas relações entre aluno, professor e escola. Para entendermos, um pouco, tudo que está sendo denunciado através desses personagens, preciso falar sobre
Função Paterna: para a teoria psicanalítica, a função paterna – que não necessariamente é desempenhada pelo pai da criança, mas normalmente por ele – consiste em barrar a relação sem limites entre a mãe e o filho. Ao contrário de outros animais, que funcionam pelo instinto, para a psicanálise o homem funciona pela pulsão. Se o instinto já contém todos os passos que o animal poderá dar, a pulsão é uma energia sem limites que move o homem para qualquer lugar e pode ser modificada apenas por meio da palavra. O que permite falar é a lei, presente na fala e na linguagem.
Antes da constituição da própria imagem é necessário que as crianças peguem “imagens acústicas”, constituídas por intermédio da linguagem. Isso se faz ao falarmos diretamente com a criança. Por esse processo o bebê começa a se perceber como indivíduo, pois nos primeiros meses de vida, a pessoa ainda se percebe como parte da mãe.
À medida que a mãe vai se dedicando a outras tarefas e outros interesses, o neném percebe que ela tem outro desejo que não ele. Existe algo que é terceiro, que a criança ainda não sabe o que é, mas a quem ela também está submetida. Só que a identidade desse terceiro não é clara para o bebê nesse momento. O mito de Édipo traduz o que se passa com a criança nesse momento e serve para explicar o que ela ainda não podia entender. O mito põe as coisas em seus lugares, porque coloca para a criança que ela não é tudo na vida da mãe, para a mãe que a criança não é o objeto dela e coloca que o pai tem uma função na família.
O pai não é apenas um ser humano de carne e osso. Quando pensamos em pai, o aspecto mais importante a ressaltar é o que chamamos de função paterna. Isto implica em algo no campo da representação simbólica, daquilo que é condição indispensável para se criar a lei e criar as condições de uma vida em grupo, tanto na família, quanto na sociedade. Isto que chamamos de função paterna é função de representação da lei, que se expressa no exercício da autoridade e do poder do pai.
O pai é a referência encarnada desta lei. Contudo, na medida em que se trata do exercício de uma função, esta pode ser executada, tanto pelo pai como pela mãe, e num desdobramento, também pela avó, pelo avô, a professora, os tios e outras figuras de autoridade significativas para a criança. A função dita paterna, ou do pai, significa o exercício de estabelecimento de corte, de limite, de padrão, de paradigma. Se a função paterna não operar os seus efeitos, colocando limites, educando, ensinando e introduzindo os filhos no campo da moral e da ética, os resultados podem ser os piores. Serão pessoas que crescerão fixadas em suas próprias necessidades, narcisistas, egoístas, sujeitas a todo tipo de desvios, tais como delinquência, perversidade, loucura, criminalidade e outros tantos desajustamentos que vemos todos os dias nos noticiários.

SOBRE PAIS: DIREITOS E DEVERES – PARTE II

Regina Rozenbaum
Na pós-modernidade, homens e mulheres tem sido levados a reavaliar a sua função de pais. A velocidade avassaladora das transformações em todos os sentidos da vida cotidiana afeta, como não poderia deixar de fazê-lo, as insígnias paternas. As evidentes mudanças que emergiram a partir da decadência dos ideais provocaram alterações de paradigmas, acarretando perdas de referências e de identidade da imago paterna e materna e, consequentemente, modificando as relações de filiação.
A mania “psicológica” de se explicar demais para as crianças, de explicar aquilo que os adultos não tem a menor convicção, simplesmente acaba não transmitindo nada. Há momentos em que se pode dialogar, como no caso em que a mãe ou o pai proíbe a criança de subir numa cadeira para que ela não se machuque. Há outros casos, porém, em que é só não e pronto, necessário também na formação das crianças.
Por causa da “psicologização” das relações familiares, as pessoas não fazem isso por não estarem certas do que tem que fazer, e uma mãe não sabe mais o que é ser uma mãe; um pai não sabe mais o que é ser um pai.
Além dos efeitos da psicologização, o ritmo atual da vida dos pais está corroendo a distância entre pais e filhos. Ao sair de manhã e só voltar à noite, os pais acabam não convivendo e não conhecendo seus filhos, o que faz com que sintam culpados. Como forma de compensar a ausência e a culpa que sentem, acabam permitindo demais.
O que os filhos realmente querem, é que os pais se importem com eles e de maneiras variadas, pedem para fazer valer um ditado do tempo de nossos avós: “é de pequeno que se torce o pepino”.
P. tem oito anos.Entrega, numa sessão, uma folha escrita, caprichosamente, com o que quer de seus pais e de si mesma (o negrito é meu):

Direitos de uma filha:
1.Ter um pai presente.
2.Ter carinho.
3.Ter atenção.
4.Ter ajuda.
5.De falar.
6.De ser solidária.
7.De ter uma família unida.
8.De diversão.

Deveres de uma filha:
1.De respeitar.
2.De amar.
3.De colaborar.
4.De ouvir.
5.De saber seus limites.
6.De dar atenção.
7.De dar o que os pais merecem.
8.De ser proibida.

Direitos de um pai
1.Ser amado.
2.De errar.
3.Ser ouvido.
4.Ser respeitado.

Deveres de um pai
1.Estar presente.
2.De ouvir.
3.De não achar que ele esta sempre certo.
4.Ajudar a educar.
5.Amar sua filha.
6.Trata-la bem.
7.Compreendê-la.
Desde pequenas e ao longo do crescimento, as crianças pedem limites, contenção, equilíbrio, proteção e segurança aos pais. Elas pedem educação, elas pedem que eles as transformem em gente! Quanto à novela? Bem, ela está só no começo.