Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

quinta-feira, 19 de março de 2009

O CORPO

Faz 14 anos que trabalho no SOCOR. Nunca vou me acostumar* com o CTI. Nesses anos todos, o máximo que consegui foi não me chocar** tanto mais.
Cheguei hoje para ver mamãe e não a enxerguei. De quem é esse corpo?
Cadê as rugas de seu rosto e em suas mãos que sempre denunciaram as muitas emoções vividas e seus constantes fazeres?
Cadê a bolinha do formato do seu nariz que sempre me fez ver a vovó em você?
Cadê sua varizes, grandes e dolorosas, adquiridas no seu caminhar que nunca pode sossegar?
Cadê seus dentes falsos, que nenhum neto deveria descobrir e que quando sorria demonstrava sua mais vivida poesia?
Cadê sua gordurinha das costas que tantas vezes esfreguei, depois de soltá-la do incômodo sutiã?
Cadê seus olhos cor de azeitona que não herdei?
Cadê suas unhas com esmalte vermelho, seus cabelos pintados e penteados?
Olho para você e não te enxergo mais mãe. Vejo a Tia Gorda. Você está a cara da Tia Gracy: só que em vez de “saudavelmente obesa”, “absolutamente cheia feito um balão”. Balão, mãe, também escapa das delicadas e pequeninas mãos e voa pelo céu.
Você já escapou, mãe, dessas mãos nada delicadas, que te aprisionam e tanto manipulam?
Você já está voando, mãe? Se estiver, aproveite seu vôo na imensidão do céu e quando aterrissar , não deixe de me contar a aventura que é voar!

*ACOSTUMAR: fazer adquirir hábito.
**CHOCAR: impressionar de forma desagradável; espantar.

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