Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

segunda-feira, 29 de junho de 2009

CASA DO RICHARD


Em agosto próximo faz cinco anos que conheço e freqüento a Casa do Richard. Nessa época, 2004, passei por um momento dificílimo, com minha filha. Enfrentar um diagnóstico e uma cirurgia de URGÊNCIA numa criança, até então super saudável, requer uma força por parte dos pais, que a gente nem faz idéia que tem. Depois de passado os momentos mais difíceis estava um caco, e ainda tínhamos uma longa jornada pela frente. Conversando com minha amiga Vênica (amiga de mais de 30 anos, que em breve postarei um pouco da nossa história) disse-lhe que estava exausta e que precisava me benzer*!- Porque não vai? Ela me disse.
- Não conheço ninguém! Respondi.
Tinham na minha memória aquelas benzedeiras, de lenço branco amarrado na cabeça, que as mães levavam as crianças que não dormiam, comiam, tinham pesadelos, estavam com mau olhado, quebranto... Não era bem isso que eu estava passando e quando usei a palavra benzer, era uma necessidade de recarregar as baterias, a energia que tinha ido embora por conta de tanto sufoco.
- Você já ouviu falar na Casa do Richard?
Com a minha negativa, ela me contou que ele era um arquiteto, bacana, “pessoa diferenciada”, que abria sua casa todas as terças e quintas para receber pessoas que estavam, como eu, precisando de uma “recarregada”.
- É um Centro Espírita?! Perguntei afirmando.
- Não! É a casa dele. É só você chegar, a partir das 19horas, sentar no sofá e aguardar. Vai tanta gente lá, que com certeza você deve encontrar com alguém conhecido! Não precisa falar quem te indicou, nem do que precisa. Ele não vai se lembrar de mim e todos que lá trabalham, já sabem como receber os visitantes.
-????
Então numa terça-feira daquele agosto de 2004, muito antes das 19horas cheguei à Casa. Fui a primeira e seguindo as instruções de Vênica, sentei num dos sofás da sala até quando Richard, que estava trabalhando em sua prancheta me disse:
- Vem cá menina, vai me privar de uma boa conversa?
Foi assim que tudo começou. Fui tendo conversas maravilhosas naquela sala, recebendo bênçãos a cada ida, reenergizando, conhecendo seres incríveis, revendo pessoas de várias épocas de minha vida, construindo amizades fantásticas.
Richard é um longo capítulo. De sabedoria ímpar, desenvolve esse “trabalho” há vinte anos em sua casa quase que ininterruptamente (a Casa só fecha em janeiro, mas se tiver alguma urgência, ele convoca a turma e vão todos trabalhar).
Sempre me perguntei como é possível uma pessoa abrir sua casa assim... Ele e sua mulher Lúcia, Lucinha (outro capítulo à parte) como todos nós, deve ter terças ou quintas que querem sossego. Aqueles dias que a gente sai do trabalho, querendo silêncio, um bom banho e dormir. Não, Richard está sempre lá. Ouve, intervém se necessário, fala algo quando é indispensável. Tudo com maestria de regente que não precisa conhecer os membros da orquestra. Regente que é puro amor e doação. O ditado diz: “quem não sabe dar, não sabe receber”! Lá é diferente: quem não sabe receber, não doa verdadeiramente. E Richard recebe, de braços abertos, coração com coração (como ele me ensinou em seus amorosos abraços) a todos!
Eu, hoje, tenho o privilégio de ser uma amiga-irmã desse casal, que me faz todos os dias proferir a palavra OBRIGADA.
E a minha amiga Vênica, que acompanha todas as minhas histórias da Casa, já sabe como sua dica de “benzedeira” mudou minha vida.
*Benzer (do lat.benedicere)- fazer o sinal da cruz sobre a pessoa ou coisa, recitando certas fórmulas litúrgicas para consagrá-la ao culto divino ou chamar sobre ela o favor do Céu; abençoar, coroar com bom resultado.

HOMOSSEXUALIDADE EM FREUD


Ao percorrermos a obra de Freud, encontramos vários trabalhos teórico-clínicos, em que a homossexualidade é discutida. Destaco: Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905, e sobretudo as notas de rodapé acrescentadas em 1925 e 1920), Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância (1910), O caso Schereber (1911) e Psicogênese de um caso de homossexualismo numa mulher (1920).
Embora algumas ambigüidades existam, o que se depreende da leitura desses textos, é que a homossexualidade é uma posição libidinal, uma orientação sexual, tão legítima quanto à heterossexualidade. Freud sustenta essa posição partindo do complexo de Édipo, fundado sobre a bissexualidade original, como referência central a partir da qual a chamada “escolha de objeto” ou “solução” vai se constituir. Tal escolha, que não depende do sexo do objeto, é à base dos investimentos futuros. Uma vez que os investimentos libidinais homossexuais estão presentes, ainda que no inconsciente, em todos os seres humanos desde o início da vida, Freud opõe-se com o máximo de decisão, que se destaquem os homossexuais, colocando-os como um grupo à parte do resto da humanidade, como possuidores de características especiais {...} Ao contrário, a psicanálise considera que a escolha de um objeto, independentemente de seu sexo – que recai igualmente em objetos femininos e masculinos – tal como ocorre na infância, nos estágios primitivos da sociedade e nos primeiros períodos da história, é a base original da qual, como conseqüência da restrição num ou noutro sentido, se desenvolvem tanto os tipos normais quanto os invertidos (FREUD, 1905, p.146).
Anos mais tarde, 1920, ele deixa ainda mais clara sua posição em relação à homossexualidade:
Não compete à psicanálise solucionar o problema do homossexualismo. Ela deve contentar-se com revelar os mecanismos psíquicos que culminaram na determinação da escolha de objeto, e remontar os caminhos que levam deles até as disposições pulsionais (FREUD, 1920, p.211).
A conclusão que podemos extrair é que tanto a homossexualidade quanto a heterossexualidade são destinos pulsionais ligados a resoluções edipianas.
A visão completamente nova e revolucionária de Freud é sua noção de psicossexualidade, dada em seu texto de referência sobre o tema, Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, onde afirma que, no ser humano, a pulsão sexual não tem objeto fixo, ou seja, ela não está atrelada ao instinto como nos animais. Com isso, Freud divorcia a sexualidade de uma estreita relação com os órgãos sexuais, passando a considerá-la como uma função abrangente em que o prazer é sua finalidade principal, sendo a reprodução uma meta secundária!
Continuaremos no(s) próximo(s) post(s). É preciso certo tempo para assimilar toda a informação. Principalmente declinar essa posição filosófica, derivada do pensamento grego e que postula a existência de inclinações naturais nas coisas. Posição incorporada à tradição judaico-cristã, acrescida da idéia de pecado e que passou a constituir as bases dos valores morais da cultura ocidental.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

NOVENTA DIAS E UM SONHO

"Recordação é quando, sem autorização, seu pensamento torna a mostrar um episódio”.
“Saudade é quando o momento tenta fugir da recordação para aparecer de novo e não consegue”.
(li ou ouvi em algum lugar e não me recordo de quem é.)

Bati a campainha da Santa Rita Durão três vezes, era o meu toque de sempre.
- É você, Regina?
- Sou, mãe. Abre depressa porque estou apertada para fazer xixi!
Dei um beijo apressado na sua bochecha e fui para o banheiro, ouvindo ela dizer que estaria na cozinha, pois estava fazendo “carne com quiabo”, “tomates reinados”.
- É assim! Desde cedo nessa cozinha. Serviço não falta, uma esfregatina só. É uma para fazer e muitos para comer!
Sorri pensando quantas e quantas vezes, ela sempre cozinhava, reclamava da trabalheira, do dia inteiro passado na cozinha, das dores nas pernas, à noite, enquanto via seu jornal e de como sempre se alegrava com a família em volta da mesa, naquele burburinho todo!
- Tem que contar cabeças e bonetas. Eliana ainda não chegou, vou deixar um prato para ela.
Voltando para a cozinha lhe contei que estive com Mary, que vi Gracy na festa da rua, que Verônica lembrou de uma das suas máximas: “tem que comemorar a vida”, que Pigão ligou convidando para o aniversário de 50 anos, – Já comprou o presente? Esse menino vale ouro! Que Beni chega no dia primeiro de julho - “Traz ela aqui pra lanchar”, que tinha ido à casa do Richard e recebido, além de muitos abraços carinhosos do mais puro amor, uma benção de nome Anderson...
O despertador tocou e por mais que quisesse continuar, percebi que havia sonhado com mamãe. Fechei os olhos, com força, para retomar aquelas cenas que estavam tão reais! Em vão.
Já sintonizada com a realidade das seis da manhã de uma quarta-feira, vi que hoje faz três meses que ela partiu.
Tento explicar, aos mais próximos, que o luto é um longo caminho, que começa com a dor viva da perda de um ente querido e declina com a aceitação serena da realidade do seu desaparecimento e do caráter definitivo da sua ausência. Ausência que se faz presença em outras formas de representações.
Tento explicar o que não é explicável.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Homossexualidade - Introdução

(Dedico esse e os próximos posts a todos oCor do textos meus amigos e, principalmente, clientes, que me fizeram e fazem aprender todos os dias).


Em todos esses anos de clínica sempre me surpreendi quando recebia e ainda recebo, pais de crianças, que quase sussurrando, contavam que estavam trazendo seu/sua filho/a porque estavam preocupados com a maneira de ser dele (a):
Ele é muito sensível, gosta muito de brincar com meninas, se interessa por assuntos de mulher...”
“Ela não tem a menor vaidade, só gosta de usar calças compridas, de esportes brutos, lutas...”
“Ele é muito afeminado...”
“Tem solução não tem?... A terapia pode dar um jeito nisso, né?”

Já com adultos, sempre, a “confissão” só ocorre depois de algumas sessões, carregada de uma angústia e revestida de uma culpa, que sempre exigiu de mim cuidado maior no estudo.
Muito já se escreveu sobre o tema (só pesquisar na internet) e não tenho a intenção, de num blog, aprofundar ou esgotar o assunto. Esses posts serão pequenos pinçamentos para informar, esclarecer e contribuir para um assunto, que mesmo no século XXI, ainda é tratado com preconceito, ignorância e violência.
Origem do termo:
O termo “homossexualismo” foi proposto, em 1869, pelo médico húngaro Benkert, a fim de transferir do domínio jurídico, para o domínio médico essa manifestação da sexualidade. Antes do século XVIII, a palavra “homossexual” era utilizada nas certidões de nascimento de gêmeos. Quando do mesmo sexo, eram registrados como “homossexuais”. A “homossexualidade”, como doença, só foi excluída do DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana) em 1973, após calorosos debates. Há quem argumente, entretanto, que tal decisão foi puramente política.
Devido ao radical ismo presente em homossexualismo, que remete à doença, optou-se pelo uso da palavra homossexualidade.
É importante lembrar que sob o ponto de vista legal, a homossexualidade não é classificada como doença também no Brasil. Sendo assim, os psicólogos não devem colaborar com eventos e serviços que se proponham ao tratamento e cura de homossexuais, nem tentar encaminha-los para outros tratamentos. Quando procurados por homossexuais ou seus responsáveis para tratamento, os psicólogos não devem recusar o atendimento, mas sim aproveitar o momento para esclarecer que não se trata de doença, muito menos de desordem mental, motivo pelo qual não podem propor métodos de cura. Existe uma infinidade de teorias psicológicas e biológicas tentando explicar a origem da homossexualidade. As teorias psicológicas, assim como as biológicas são abundantes em opiniões e afirmações. Entretanto, nada de definitivo foi apresentado até o momento. Irei abordar do ponto de vista psicanalítico e sob a vertente na qual acredito e desenvolvo meu trabalho clínico.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

São Paulo/Sobremesa


Sanduiche de mortadela e mezanino do Mercado Municipal de S.P.
13a Parada do Orgulho LGBT
O Mercado Municipal de São Paulo é outro ponto gostoso de ir. Comer, no mezanino do mercado, o famoso pastel de bacalhau ou o sanduíche de mortadela, acompanhados por um “chops” valeu por todas as calorias adquiridas (ai,ai,ai).
Quando percebo, começam a passar o DVD do Victor e Leo e eu, sem a menor cerimônia, começo a cantar e a dançar. Paulistano é sério, mantém a pose até mesmo comendo sanduíche de mortadela no mercado!!! Pode? Pois não é, que na minha alegria e filosofia de que, a vida é agora, primeiro os garçons, caixas, atendentes e logo depois os, até então, sérios paulistanos, se uniram a mim e deixaram fluir? Foi uma alegria só, que durou até o fechamento do mercado às 18hs.
Fomos assistir também a peça “Como passar em concurso público”, da G7 Companhia de Comédia. Não criamos muitas expectativas, pois era uma das poucas peças que conseguimos ingressos para o dia. O espetáculo gira em torno das tentativas de José Brasil, um concurseiro, cujo sonho é se tornar técnico judiciário, de conseguir uma vaga em uma repartição. Desde que nasceu, José ouve de seus pais que esse é o melhor caminho. Em uma sequência de esquetes que misturam caretas - às vezes hilárias, como a tradutora evangélica para surdos possuída pelo diabo, às vezes exageradas -, e piadas que pegam os pontos fracos dos concurseiros, a companhia faz uma paródia do desespero dos candidatos, mostrando os segredos para se conseguir uma vaga no funcionalismo. São dicas "valiosas": estudar 24 horas por dia, 7 dias por semana, e, na dúvida, marcar a alternativa correta. Também pode funcionar a folha branca do descarrego do gabarito do concurso, vendida por um pastor, ou matar o japonês da primeira fila. Só não adianta apelar para Deus, porque, ao menos para a G7, ELE não sabe a diferença entre direito tributário e trabalhista. Demos muitas risadas para além de nossas expectativas!
Outro ponto que me chamou a atenção foram os preparativos da 13a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Com o tema "Sem homofobia, mais cidadania - Pela isonomia dos direitos" toda a Av.Paulista foi cuidadosamente preparada para o evento. Não sei se, atualmente, esse evento atinge seus objetivos maiores de lutar contra a violência e o preconceito. Percebi que se tornou mais uma "atração turística" de S.P. e que muitas pessoas vão para se divertirem. De qualquer maneira, ainda penso que devemos falar, conversar, debater, perguntar, ouvir, esclarecer, tirar dúvidas, demistificar sobre tudo que está ligado à homossexualidade (assunto que escreverei em breve).
Terminei essa ida a S.P. totalmente www.todentro.com. saboreando, o menu de degustação do Arábia (mais calorias...) e ouvindo como resposta de minha irmã, que queria tirar retrato - "você não vai me fazer pagar esse mico?" - com o ator Eduardo Galvão (ele tb atua em Gloriosa) e estava sozinho na mesa ao lado: "ninguém aqui paga as minhas contas!"
Realmente, Mary, você tem toda razão: ninguém paga suas contas e sua vida te pertence, mas que eu fiquei aliviada, enquanto você procurava a máquina na bolsa e o "Edu" foi embora, lá isso eu fiquei! Até a próxima SAMPA.! Obrigada por dias tão deliciosos.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

São Paulo/Prato Principal



1) Museu da Língua Portuguesa

2) Estação da Luz

3) Pinacoteca do Estado de São Paulo

4) Estação Pinacoteca - Memorial da Resistência.

Ainda hoje me pergunto se realmente estive em São Paulo depois dos passeios de sábado. A gente fala sempre, com euforia, do que vemos no estrangeiro: museus, patrimônios históricos, arquitetura, artes, praias, hotéis, resorts... Temos muito o que conhecer, admirar e principalmente valorizar nesse Brasil imenso, diverso e maravilhoso. Por vários motivos, ainda não tinha ido conhecer esse “pedaço” magnífico de São Paulo.
A Estação da Luz ocupa 7.500 metros quadrados do Jardim da Luz e foi construída entre 1895 e 1901 para substituir a primitiva estação de 1867, idealizada pelo barão de Mauá. A estação, com projeto de estilo vitoriano e material importado, já nasceu como a principal da Companhia São Paulo Railway e tinha como responsável o engenheiro James Ford. Marco histórico para a cidade, foi responsável pelo escoamento da produção de café. O seu relógio era referência para acertos na cidade.Em 1946, um incêndio quase destruiu o local, que foi reconstruído com algumas alterações. O complexo arquitetônico de 1901 foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico (Condephaat), em 1982. A Estação da Luz passou por um processo de restauração. A parte interna, as fachadas laterais e a principal foram concluídas no aniversário de 450 anos da cidade de São Paulo. O local abriga também o Museu da Língua Portuguesa, um centro de referência do nosso idioma com exposições, sala de capacitação para professores, palestras, sala de consultas e eventos culturais.
"Os limites de minha linguagem são os limites do meu mundo". (Ludwig Wittgenstein)
Recursos de interatividade e tecnologia para apresentar os conteúdos, são os diferenciais de um dos museus mais frequentados do Brasil. O acervo é exposto de forma inovadora e inusitada. A visitação é feita de cima para baixo. No auditório do terceiro andar pode ser assistido um vídeo de dez minutos sobre o surgimento da língua portuguesa. Depois a pessoa passa para a Praça da Língua, onde um audiovisual, com textos projetados por toda a sala, ilustra a riqueza do idioma falado no Brasil.
"Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura". (João G. Rosa)
No segundo andar uma galeria exibe uma tela de 106 metros com projeções simultâneas de filmes sobre o uso cotidiano do português. Totens - esta seção leva o nome de “Palavras Cruzadas” - explicam as várias influências de outros povos e línguas na formação do idioma. Uma linha do tempo que mostra a história do idioma e uma sala (Beco das Palavras) com jogo eletrônico didático sobre a origem e o significado das palavras encantam pelos recursos interativos. Completa este andar uma exposição de painéis que mostram a história do prédio que abriga o museu e a Estação da Luz.
"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo". (Álvaro de Campos)
Por fim, o primeiro andar possui um espaço para mostras temporárias. A inauguração homenageou "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa. Já houve também exposições sobre Clarice Lispector e Gilberto Freyre. Até 14/06 estava, a que visitei, “Palavras sem fronteiras – Mídias convergentes” baseada na obra homônima de Sergio Corrêa da Costa. Os elevadores do museu também compõem o espaço expositivo, pois tem vista panorâmica para a Árvore da Palavra, uma escultura de 16 metros criada pelo artista Rafic Farah, e ainda oferecem áudio que repete um mantra composto por Arnaldo Antunes!
"Não facilite com a palavra amor". (Carlos Drumond de Andrade)
Tudo na Pinacoteca do Estado de São Paulo transpira cultura. O prédio por ela ocupado hoje foi projetado por Ramos de Azevedo em 1897 para constituir o Liceu de Artes e Ofícios. Suas paredes de tijolos não revestidos e amplas janelas passaram por uma reforma recente. Hoje, o prédio conta com salões restaurados, pátios internos cobertos, telhado recuperado, projeto luminotécnico adequado à exposição cultural, entre outras modernizações.A Pinacoteca do Estado de São Paulo abriga importantes exposições nacionais e internacionais. Além disso, conta com um acervo permanente com mais de 4 mil peças, reunindo trabalhos de expoentes da arte brasileira e mundial. As visitas monitoradas e lanchonete totalmente integrada ao clima artístico fazem parte da estrutura de recepção ao visitante, que sai das dependências simplesmente deslumbrado, como eu fiquei, com a qualidade de tudo o que constitui a Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Já a Estação Pinacoteca e o Memorial da Resistência é o depositário de uma história repleta de significados. É um monumento/documento que nos permite "recordar" enquanto sinal do passado, e "informar", por seu significado econômico, político, social e cultural. O prédio (inaugurado em 1914) foi originalmente construído para abrigar os escritórios e armazéns da Companhia Estrada de Ferro Sorocaba. Em 1919, diante do crescimento da cidade e da ferrovia, a direção da companhia, decidiu investir à altura do progresso surgindo assim a Estação Júlio Prestes (que hoje abriga a Sala São Paulo).
Inaugurada a nova estação e para lá transferidos os escritórios da Cia., este edifício sofreu várias reformas, mudou de função e passou a abrigar em 1940 a Delegacia Especializada de Explosivos, Armas e Munições, vinculada ao DEOSP/SP (Departamento Estadual de Ordem Política e Social de SP).
Hoje, além de ser um espaço para o desenvolvimento de inúmeras atividades museológicas no campo das artes visuais, é também um lugar dedicado à preservação da memória da resistência e da repressão, para que as novas gerações encontrem, aqui, não só as informações sobre as atrocidades da repressão, mas sobretudo, as inspirações para a valorização da solidariedade, dos princípios democráticos e do respeito à diferença!
É com essa frase que iniciamos e terminamos nossa visita: "ENQUANTO LEMBRAMOS TUDO É POSSÍVEL". (Elie Wiesel)



















terça-feira, 16 de junho de 2009

São Paulo/Entrada

Pela manhã fomos às compras... A gente encontra de tudo nessa cidade de acordo com gostos e bol$o$. Meu objetivo era exclusivamente encontrar sapatos, sandálias, botas para minha Preta que, aos quinze anos, calça 40. Quando tinha a idade dela, uns anos a menos, sofri muito com os meus 39 e praticamente só tinha um modelo de sapato: boneca de verniz preto ou branco para sair e marrom de couro para o colégio (Sapataria Atômica). Ave Maria, não gosto nem de me lembrar como me sentia http://www.tofora/. E como me tornei fidelíssima, às raras lojas de sapato, que incluíam em sua grade de compra, um único par 39! As coisas mudaram muito de lá para cá, mas em Beagá ainda temos muita dificuldade para as meninas/moças que calçam 40/41/...e no caso dela, além do problema com a numeração, de possuir pés muito finos, delicados, como ela mesma diz: “esse é de gente velha, mãe”! Deu tudo certo e ela ficou feliz da vida com os presentes.
Apesar de ser feriado, e com isso o trânsito era uma bênção, SAMPA estava lotada de turistas em função de vários eventos e principalmente a 13ª Parada GLVT** que ocorreria no domingo. As lojas então nem se fala - era também dia dos namorados - necessário se fez, exercitar as lições de paciência e bom humor.
Fomos à FNAC e Livraria Cultura e as duas horas lá dentro passaram em puro prazer. As pessoas lêem seus livros, sentados confortavelmente nos muitos sofás espalhados pelos andares, como se estivessem em suas casas. Trocam informações, puxam conversa, dão dicas, paqueram, são paqueradas (tudo muito intelectualmente rsrsrs) e às vezes estabelecem amizades entre um capítulo e outro.
Bem antes de ir para SP, havia pedido à Mary que comprasse ingressos para vermos uma peça que estrearia nessa semana, pois do contrário sem chances. Assim, à noite, fomos assistir GLORIOSA.
Após temporada no Rio de Janeiro, a atriz Marília Pêra chegou ao palco do Teatro Procópio Ferreira para comandar a comédia musical Gloriosa. Marília vive Florence Jenkins, "a pior cantora do mundo", que não acertava uma nota, porém acreditava que tinha talento.
Florence Foster Jenkins era a piada mais popular de Nova Iorque nos anos 40 do século passado. Os ingressos para os recitais anuais que protagonizava no Hotel Ritz eram disputados a tapa, ainda que sua performance fosse a mais terrível. Marília divide o palco com Guida Vianna e Eduardo Galvão no espetáculo de Cláudio Botelho e Charles Möeller.
Com texto de Peter Quilter, o espetáculo Gloriosa teve sua estreia mundial em agosto de 2005, no Birmingham Repertory Theatre, na Inglaterra, e tornou-se a peça mais vendida na história daquele teatro. A montagem inglesa ganhou os prêmios Theatregoers e Laurence Olivier Award na categoria Melhor Comédia Musical. Em 2006 e 2007, Gloriosa foi encenada em mais de 20 países.
Ela está gloriosa no papel! Um humor sutil que arrancou várias risadas de um teatro totalmente lotado. Alimentados na alma, fomos para a 1.900 alimentar a matéria, porque afinal, ninguém é de ferro.
OBS:** Como já havia prometido para muitas pessoas, logo logo estarei escrevendo aqui, psicanaliticamente, sobre homossexualidade.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

São Paulo/Couvert

Fui passar esse feriado em S.P. com minha irmã Mary que mora lá há mais de vinte anos, e por isso digo que ela é mais paulista que mineira. Sempre adorei ir a SP. A vida acadêmica, cultural, gastronômica que existe nas vinte e quatro horas do dia, para todos os gostos, a transforma na “cidade que nunca dorme nem pára”.
Recebida com amor, aconchego e mimos (deliciosos chocolates me aguardavam em meu quarto com um cartão lindo de boas vindas. Ela, graças a D’US, consegue expressar seus sentimentos sem a desculpa que ouço muitas vezes, de muitas pessoas, que “não sei escrever, não tenho seu dom”. Sentimento só precisa fluir... do jeito de cada um.) fomos jantar num restaurante que Douglinhas (artista de sensibilidade e bom gosto ímpar) havia dado a dica: CHAKRAS.
Com nome tão sugestivo, seus ambientes vivazes são um equilíbrio perfeito entre cores, ritmos e luzes, tudo temperado aos sabores refinados de sua gastronomia contemporânea. O bem-estar e a harmonia se encontram em todos os detalhes, criado, sem dúvidas, para equilibrar os chacras existentes em cada um que vem desfrutar desta viagem sensorial e gastronômica.
Acolhedor e universal, o Chakras nos ofereceu uma experiência multisensorial. Um verdadeiro Templo dos Sentidos: é a celebração do amor para o ser humano. O amor que nesse restaurante foi transmitido pela decoração, arte, música e gastronomia.
Saindo de lá, fomos encontrar mais amigos no Havana Club, existente dentro do Renaissance SP Hotel. O Club tem a decoração assinada por Sig Bergamin e além da cuidadosa seleção de charutos e clube do whisky (típico de paulistano) uma pista de danças, aonde vai tocando junto com imagens projetadas num imenso telão, todos os ritmos possíveis. Entre um e outro relembramos festas, rimos dos passos inventados, nos atualizamos nos novos “hits” e ficamos com certeza www.todentro da vida. Com os 11 graus de um frio para além da madrugada, cheguei em casa para desfazer a mala e me preparar para o(s) outro(s) dia. Tinha sido só o couvert de deliciosos dias que me aguardavam.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A ALMA IMORAL

Domingo tornou-se um dia que gosto de ficar em casa. Acordo e levanto a hora que o corpo quer e não a que o despertador das obrigações da semana, ditatorialmente determina. Tomo o café da manhã, minha refeição predileta, vagaroooooosamente, escuto música de acordo com meu astral, me esparramo no sofá para ler o jornal ou dar seguimento naquela leitura deliciosa, atendo ou não aos telefonemas de acordo com minha vontade de naquele instante, interromper esses prazeres e falar ao telefone, e ainda conto com a colaboração do celular que só pega, lá em casa, quando quer (só gosto disso com o celular aos domingos!).
Nesse último estava ainda na etapa do café, quando o telefone tocou e uma amiga, arquiteta, me convidava para tomarmos café juntas. Declinei o convite, mas perguntei se ela não gostaria de vir em casa fazer as marcações e dependurar os quadros, como havia me prometido, que herdados há dois meses, se empoeiravam encostados nas paredes. Assim foi e entre uma confidência aqui e uma novidade ali, degustando um delicioso Proseco chega o horário do almoço e à programação noturna, teatro: A Alma Imoral. Compromisso que, tradicionalmente, não assumo no domingo, mas em função das companhias de sobrinhos e irmã, aceitei.
A atriz Clarice Niskier inicia a peça contando que em 2002, estava em cartaz com o espetáculo “Buda”, quando foi participar de um programa de TV para discutir religião. Ao declarar, ao vivo, que se considerava uma “judia-budista”, foi duramente criticada por uma espectadora/D.Léa. O rabino Nilton Bonder, também presente, interviu em sua defesa e, ao final do programa, deu a ela seu livro de presente.
A obra e o episódio (necessidade de responder à D.Léa, o que não ocorreu no programa) marcaram tanto Clarice que ela decidiu adaptar o livro do rabino para o teatro. Dessa história, surgiu o espetáculo “A Alma Imoral”.
Já havia lido o livro por sugestão do Gui, mas da primeira vez que ela a encenou, aqui em BH, não pude ver a peça. Dessa, graças à lembrança do Mau em me convidar, pude deleitar-me.
O texto propõe um descondicionamento muito profundo do olhar, tanto no dia-a-dia quanto para si mesmo. Bonder interpreta as histórias do velho testamento de forma arejada, no sentido de libertar o sagrado que tem dentro de você, sem a necessidade de um dogma. Fala ainda da necessidade de rompimentos: assim como temos necessidades da tradição (ato de transmitir ou entregar), temos necessidades de traição (não cumprir, não corresponder), mas da traição que respeite a vida. A gente tende a ver que só o conservador é que respeita o passado. Mas existe respeito pelo futuro, para evoluir e para poder, através do desconhecido, aprimorar o conhecido, trazer vida para ele.
A peça, um monólogo, não há personagem. É a própria Clarice que vai conversando com o público e narrando as passagens da obra que pode ser re-falada (trechos) de acordo com os pedidos da audiência. Ela fica nua durante boa parte da peça, usando apenas um pano preto que se transforma em vários figurinos e de uma expressão corporal fantástica. Não é por acaso que ganhou o Prêmio Shell/2007 de melhor atriz com sua “Alma Imoral”.
E com isso eu pude cometer uma deliciosa traição, do que já estava se tornando um tradicional domingo. Recomendo a leitura do livro e assistir à peça!
P.S.: Temos sempre uma "D.Léa" em nossas vidas, que independente do tempo que levamos carece de resposta.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

DIVÃ E FREUD

Recebi em fevereiro, das mãos de uma cliente, essa crônica. Freud ocupa em mim um lugar muito especial (independente de minha profissão e apesar dela) e a(s) possibilidade(s) que criamos a partir de uma análise, só mesmo se submetendo. Resolvi postá-la para dar uma certa continuidade ao Divã. Os negritos são meus. Bom proveito!
FREUD SE EXPLICA- (Zuenir Ventura/O GLOBO/31/01/09)
Por obra e graça de uma amiga psi, acabo de receber um texto raro que vale a pena ser lido ou relido, apesar de velho. Trata-se da famosa entrevista dada por Freud ao jornalista americano George Viereck, em 1926. Na impossibilidade de transcreve-la na íntegra, selecionei trechos em que ele explica e se explica. Já septuagenário, o pai da psicanálise começa dizendo que setenta anos ensinaram-lhe a “aceitar a vida com serena humildade”. No entanto, a prótese no maxilar corroído por um câncer e uma certa dificuldade de falar parecem tirar-lhe muito dessa serenidade, deixando em seu lugar uma irônica resignação. “Detesto o meu maxilar mecânico(...), mas prefiro ele a maxilar nenhum. Ainda prefiro a existência à extinção.”
Quando entrevistador e entrevistado passeavam pelo jardim da casa, Freud “acariciou ternamente um arbusto que florescia”. Falavam de fama e posteridade. “Estou muito mais interessado neste botão do que no que possa me acontecer depois que estiver morto”, revelou o psicanalista. “A fama chega apenas quando morremos e, francamente, o que vem depois não me interessa. Não aspiro à glória póstuma. Minha modéstia não é virtude.” O jornalista lhe pergunta, quase afirmando:
“Então o senhor é, afinal, um profundo pessimista?” “Não, não sou. Não permito que nenhuma reflexão filosófica estrague a minha fruição das coisas simples da vida.” Em seguida, enumera o que aprecia: “A companhia de minha mulher, meus filhos, o pôr-do-sol. Observei as plantas crescerem na primavera. De vez em quando tive uma mão amiga para apertar. Vez ou outra encontrei um ser humano que quase me compreendeu. Que mais posso querer?” A seguir outras pérolas do pensamento freudiano:
- Nossos complexos são a fonte de nossa fraqueza; mas com freqüência são também a fonte de nossa força.
- O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós. A morte é a companheira do amor. Juntos eles regem o mundo.
- A psicanálise torna a vida mais simples. Adquirimos uma nova síntese depois da análise.
- A inteligência num paciente não é um empecilho. Pelo contrário, às vezes facilita o trabalho.
- Estou escrevendo uma defesa da análise leiga, praticada por leigos(...). Alguns de meus melhores discípulos são leigos.
- Compreender tudo não é perdoar tudo. A tolerância com o mal não é, de maneira alguma, um corolário do conhecimento.
- O objetivo derradeiro da vida é a sua própria extinção.
- Eu prefiro a companhia dos animais à companhia humana. São tão mais simples! Não sofrem de uma personalidade dividida, da desintegração do ego.
Já eu, septuagenário em quem o impulso da vida é maior que o de morte, prefiro a companhia dele, Freud, à de qualquer animal. Um cachorro, por exemplo, seria de fato bem mais simples, mas dificilmente daria uma entrevista tão interessante quanto essa.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

AINDA DIVÃ

Júnia havia me enviado essa msg, com a advertência que lesse somente após ver o filme. Assim fiz, e penso que ele veio para ratificar tudo que venho postando. Aproveitem!






(AUTORA DO LIVRO QUE INSPIROU O FILME "O DIVÃ")
Martha Madeiros

Tenho viajado bastante para acompanhar algumas pré-estréias do filme "O Divã," baseado no meu livro homônimo. Delícia de tarefa, ainda mais quando a gente gosta de verdade, do trabalho realizado, e esse filme realmente ficou enxuto, delicado e emocionante!...
Além disso, ainda consegue me provocar...
A personagem Mercedes (vivida pela incrível Lilia Cabral) está fazendo análise, e leva para o consultório muitos questionamentos sobre sua vida...
Até que, passado um tempo, finalmente RELAXA, e se dá conta de que não há outra saída a não ser conviver com suas IRREALIZAÇÕES...
Diante disso, o analista sugere alta, no que ela rebate:
-ALTA??!
Logo agora que estou me divertindo?!...
Eu tinha esquecido dessa parte do livro, e quando vi no filme, me pareceu tão cristalino.
Um dos sintomas do AMADURECIMENTO é justamente o RESGASTE DE NOSSA JOVIALIDADE, só que NÃO A JOVIALIDADE DO CORPO, que isso só se consegue ATÉ CERTO PONTO...
Mas a JOVIALIDADE DO ESPÍRITO, TÃO MAIS PRIORITÁRIA!...
-Você é adulto (a) mesmo?
Então, PARE DE RECLAMAR. PARE DE BUSCAR O IMPOSSÍVEL!... PARE DE EXIGIR PERFEIÇÃO DE SI MESMO!... PARE DE ENCONTRAR LÓGICA PARA TUDO!...
PARE DE CONTABILIZAR PRÓS E CONTRAS!... PARE DE JULGAR OS OUTROS!...
PARE DE TENTAR MANTER SUA VIDA SOB RÍGIDO CONTROLE!... SIMPLESMENTE DIVIRTA-SE!... NÃO QUE SEJA FÁCIL...
Enquanto que um corpo sarado se obtém com exercício, musculação, dieta e discernimento quanto aos hábitos cotidianos, A LEVEZA DE ESPÍRITO REQUER JUSTAMENTE O CONTRÁRIO:
A LIBERAÇÃO DAS CORRENTES! A AVENTURA DO NÃO DOMÍNIO. PERMITIR-SE O ERRO!... NÃO SE SACRIFICAR EM DEMASIA.
Já que estamos todos caminhando rumo a um mesmo destino, que não é nada ESPETACULAR... É preciso perceber a hora de tirar o pé do acelerador! Afinal, quem quer cruzar a linha de chegada?!...
Mil vezes CURTIR A TRAVESSIA!...
Dia desses recebi o e-mail de uma mulher revoltada, baixo-astral, carente de frescor, e fiquei imaginando, como deve ser difícil VIVER SEM ABSTRAÇÃO E SEM VER GRAÇA NA VIDA. ENCLAUSURADA NA DOR!... Ela não estava me xingando pessoalmente, e sim manifestando sua contrariedade em relação ao universo, apenas isso: ODIAVA O MUNDO!... Não a conheço, pode sofrer de DEPRESSÃO... TER UM PROBLEMA SÉRIO...
Sei lá!... Mas há pessoas que apresentam QUADRO DEPRESSIVO e ainda assim, NÃO PERDEM O HUMOR, NEM QUE QUEIRAM!... Tiveram a sorte de nascer com esse REFINADO INSTINTO DE SOBREVIVÊNCIA!
-DORES?!... CADA UM TEM AS SUAS!
Mas o que nos faz CULTIVÁ-LAS por décadas??!...
Creio que nos APEGAMOS COM DESESPERO às dores, POR NÃO TER O QUE COLOCAR NO LUGAR, CASO A DOR SE VÁ!... E então se fica RUMINANDO, ALIMENTANDO A "PRÓPRIA MÁ SORTE", NUM PROCESSO DE VITIMIZAÇÃO, QUE CHEGA AO NÍVEL DO ABSURDO!... Por que fazemos isso conosco?
AMADURECER TALVEZ SEJA DESCOBRIR QUE SOFRER ALGUMAS PERDAS É INEVITÁVEL!..., MAS QUE NÃO PRECISAMOS NOS AGARRAR À DOR PARA JUSTIFICAR NOSSA EXISTÊNCIA!

GRIPE NO DIVÃ

Esses últimos dias de maio peguei uma gripe que quase me derrubou. De alguma maneira eu já a aguardava há mais de dois meses. Quando estamos sob muita tensão, vivenciando emoções num ritmo muito alucinado, não damos conta de digerirmos e aí ocorre uma somatização. Cada um tem, e sabe bem, seu ponto fraco. Quando meu sistema imunológico cai, o emocional despenca, vem a gripe e me obriga a desacelerar e elaborar. O resfriado sempre aflige a pessoa quando ela enfrenta situações críticas, quando se "sente entupida até o nariz" ou "está a ponto de sufocar" com algo. Por situação de crise significamos, aqui, aquelas situações corriqueiras, mas importantes para a nossa psique; nossos desejos de fuga devido ao cansaço se manifestam pela necessidade de repouso, que assim tem uma justificativa legítima. Nossa gripe/resfriado permite que nos afastemos primeiro da situação desagradável e que nos dediquemos um pouco mais a nós mesmos. Nossa sensibilidade pode extravasar-se através do âmbito corporal.
A medicina natural tem razão quando vê na gripe/resfriado um processo saudável de purificação através do qual as toxinas são expulsas do corpo; no âmbito psíquico, as toxinas correspondem aos problemas que, analogamente, são liquefeitos e expelidos! Corpo e alma saem fortalecidos da crise, até a próxima vez em que as coisas "ultrapassarem o limite do nariz"...
Voltando a minha gripe, essa foi bem diferente, eclodida após um banho de ar condicionado.
Na última quinta feira exercitei o mais intenso “ócio criativo”: fui assistir às 12h40min, com minha melhor amiga, ao filme Divã. Nesse horário, não preciso dizer que estávamos sozinhas, na gigantesca e gelada sala do cinema. Acompanhadas de algumas guloseimas, permitidas para tal horário, rimos a valer, lembramos de situações muito semelhantes vividas por nós ou contadas por amigas, conhecidas, clientes... O melhor de tudo foi a constatação de que quando estamos inteiras, de bem com a vida, emocionalmente “tratadas”, ninguém nos segura. Saí do cinema e tive que ligar para Júnia (que já havia visto o filme) para dar continuidade à conversa iniciada no domingo.
- Você foi agora????
- Estou acabando de sair de uma exibição exclusiva!
- Sozinha?
- Não, vim com minha melhor amiga.
-???
- Eu mesma.
Assim, à noite, o corpo começou a doer, arrepios de frio, febre, coriza, aquele mal estar generalizado, mas tudo minimizado pelas minhas lembranças, das muitas horas já vividas numa horizontal de nome divã. Nada como uma boa psicanálise!