Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A ALMA IMORAL

Domingo tornou-se um dia que gosto de ficar em casa. Acordo e levanto a hora que o corpo quer e não a que o despertador das obrigações da semana, ditatorialmente determina. Tomo o café da manhã, minha refeição predileta, vagaroooooosamente, escuto música de acordo com meu astral, me esparramo no sofá para ler o jornal ou dar seguimento naquela leitura deliciosa, atendo ou não aos telefonemas de acordo com minha vontade de naquele instante, interromper esses prazeres e falar ao telefone, e ainda conto com a colaboração do celular que só pega, lá em casa, quando quer (só gosto disso com o celular aos domingos!).
Nesse último estava ainda na etapa do café, quando o telefone tocou e uma amiga, arquiteta, me convidava para tomarmos café juntas. Declinei o convite, mas perguntei se ela não gostaria de vir em casa fazer as marcações e dependurar os quadros, como havia me prometido, que herdados há dois meses, se empoeiravam encostados nas paredes. Assim foi e entre uma confidência aqui e uma novidade ali, degustando um delicioso Proseco chega o horário do almoço e à programação noturna, teatro: A Alma Imoral. Compromisso que, tradicionalmente, não assumo no domingo, mas em função das companhias de sobrinhos e irmã, aceitei.
A atriz Clarice Niskier inicia a peça contando que em 2002, estava em cartaz com o espetáculo “Buda”, quando foi participar de um programa de TV para discutir religião. Ao declarar, ao vivo, que se considerava uma “judia-budista”, foi duramente criticada por uma espectadora/D.Léa. O rabino Nilton Bonder, também presente, interviu em sua defesa e, ao final do programa, deu a ela seu livro de presente.
A obra e o episódio (necessidade de responder à D.Léa, o que não ocorreu no programa) marcaram tanto Clarice que ela decidiu adaptar o livro do rabino para o teatro. Dessa história, surgiu o espetáculo “A Alma Imoral”.
Já havia lido o livro por sugestão do Gui, mas da primeira vez que ela a encenou, aqui em BH, não pude ver a peça. Dessa, graças à lembrança do Mau em me convidar, pude deleitar-me.
O texto propõe um descondicionamento muito profundo do olhar, tanto no dia-a-dia quanto para si mesmo. Bonder interpreta as histórias do velho testamento de forma arejada, no sentido de libertar o sagrado que tem dentro de você, sem a necessidade de um dogma. Fala ainda da necessidade de rompimentos: assim como temos necessidades da tradição (ato de transmitir ou entregar), temos necessidades de traição (não cumprir, não corresponder), mas da traição que respeite a vida. A gente tende a ver que só o conservador é que respeita o passado. Mas existe respeito pelo futuro, para evoluir e para poder, através do desconhecido, aprimorar o conhecido, trazer vida para ele.
A peça, um monólogo, não há personagem. É a própria Clarice que vai conversando com o público e narrando as passagens da obra que pode ser re-falada (trechos) de acordo com os pedidos da audiência. Ela fica nua durante boa parte da peça, usando apenas um pano preto que se transforma em vários figurinos e de uma expressão corporal fantástica. Não é por acaso que ganhou o Prêmio Shell/2007 de melhor atriz com sua “Alma Imoral”.
E com isso eu pude cometer uma deliciosa traição, do que já estava se tornando um tradicional domingo. Recomendo a leitura do livro e assistir à peça!
P.S.: Temos sempre uma "D.Léa" em nossas vidas, que independente do tempo que levamos carece de resposta.

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