Estava
num restaurante quando ouvi, e todos os outros comensais também, a discussão do
jovem casal. Cobranças, reivindicações, mágoas e intimidades despejadas
publicamente, sem nenhum pudor, para que todos degustassem de prato principal.
Tive uma vontade de convidá-los ao consultório. Mas, fiquei nela, é claro. Pensei aí na importância de um terceiro, mediador, numa situação como essa. Como aqueles que são enviados a países em guerra ou nos programas pré-eleitorais. Certo que aqui a população se resumia a dois. Mas pareciam milhares de homens e mulheres sendo representados pelo referido casal.
Mediar uma discussão é algo diferente de julgar. O mediador, penso eu, tem como função gerar um campo de escuta e, assim, estabelecer pontes entre interlocutores.
Percebo a tenacidade com que esse especialista se dedica, evitando que as partes fiquem encurraladas em becos sem saída – becos estes que são gerados pelos ressentimentos, que sabotam qualquer escuta.
Ideias são armas e ficam sempre atreladas a alguma função. Uma opinião quer afirmar ou convencer; uma justificativa, por sua vez, é um veredicto. E tudo o que se julga não promove a mediação.
Já as histórias - ouvida das partes – se insinuam como uma escuta antes de qualquer conclusão. Elas apostam na identificação e no envolvimento porque se retiram do contexto do conflito ou dos interesses entre partes e vão para um território neutro, de um tempo indefinido ou de um “alguém” que é um terceiro.
Nesse lugar neutro surge a oportunidade de abrandar ânimos. O tom da história nos liberta do tom de nossas próprias certezas e ideias já estabelecidas.
O mediador é alguém que está sempre transformando opiniões e juízos em histórias. Somos tentados, como em brigas em que o ódio transborda em agressividade, a desfilar nossa opinião. Mesmo quando educadamente recheamos nosso discurso de desculpas e abrimos parênteses de toda ordem, tentamos a socar o outro no estômago.
Tive uma vontade de convidá-los ao consultório. Mas, fiquei nela, é claro. Pensei aí na importância de um terceiro, mediador, numa situação como essa. Como aqueles que são enviados a países em guerra ou nos programas pré-eleitorais. Certo que aqui a população se resumia a dois. Mas pareciam milhares de homens e mulheres sendo representados pelo referido casal.
Mediar uma discussão é algo diferente de julgar. O mediador, penso eu, tem como função gerar um campo de escuta e, assim, estabelecer pontes entre interlocutores.
Percebo a tenacidade com que esse especialista se dedica, evitando que as partes fiquem encurraladas em becos sem saída – becos estes que são gerados pelos ressentimentos, que sabotam qualquer escuta.
Ideias são armas e ficam sempre atreladas a alguma função. Uma opinião quer afirmar ou convencer; uma justificativa, por sua vez, é um veredicto. E tudo o que se julga não promove a mediação.
Já as histórias - ouvida das partes – se insinuam como uma escuta antes de qualquer conclusão. Elas apostam na identificação e no envolvimento porque se retiram do contexto do conflito ou dos interesses entre partes e vão para um território neutro, de um tempo indefinido ou de um “alguém” que é um terceiro.
Nesse lugar neutro surge a oportunidade de abrandar ânimos. O tom da história nos liberta do tom de nossas próprias certezas e ideias já estabelecidas.
O mediador é alguém que está sempre transformando opiniões e juízos em histórias. Somos tentados, como em brigas em que o ódio transborda em agressividade, a desfilar nossa opinião. Mesmo quando educadamente recheamos nosso discurso de desculpas e abrimos parênteses de toda ordem, tentamos a socar o outro no estômago.
O
diálogo é construído principalmente a partir das escutas. As falas manifestam
os sentimentos e reivindicações, mas a interação só se produz na escuta.
O que escuto do outro é o que realmente promove os avanços nas relações para ambos os lados. Isso porque, quando escuto o outro, nós dois nos transformamos. Quando reconhecemos que o outro nos ouviu, muitas das adversidades se desfazem automaticamente, pelo simples fato de que o ódio é um produto da sensação de isolamento.
A escuta do outro reduz a definição das fronteiras de nosso ego e permite perceber nossa “causa” num ambiente maior do que aquele restrito apenas ao meu interesse pessoal. Tudo o que alivie a sensação de solidão e encurralamento em defesa de nossa posição possibilita uma atitude anfitriã. O outro passa a não ser mais o intruso e podemos assim partilhar o pão. De preferência em casa! Descobri com esse episódio que exerço(?) essa função: mediar dores.
O que escuto do outro é o que realmente promove os avanços nas relações para ambos os lados. Isso porque, quando escuto o outro, nós dois nos transformamos. Quando reconhecemos que o outro nos ouviu, muitas das adversidades se desfazem automaticamente, pelo simples fato de que o ódio é um produto da sensação de isolamento.
A escuta do outro reduz a definição das fronteiras de nosso ego e permite perceber nossa “causa” num ambiente maior do que aquele restrito apenas ao meu interesse pessoal. Tudo o que alivie a sensação de solidão e encurralamento em defesa de nossa posição possibilita uma atitude anfitriã. O outro passa a não ser mais o intruso e podemos assim partilhar o pão. De preferência em casa! Descobri com esse episódio que exerço(?) essa função: mediar dores.