Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

sábado, 27 de setembro de 2014

ANO NOVO EM SETEMBRO



Acho um privilégio ter dois anos novos para celebrar. Afinal são duas chances, inteirinhas, para desejar e rechear os desejos com intenção. Faço limpeza da casa, faxina diferente, para o novo. Um ritual trabalhoso, mas que gosto imenso.
Limpei todos os cantos, joguei fora papeladas antigas que amarelavam em desuso. Estou mudando, inovando a vida. Então, por que acumular tantos registros do passado??? Bastam algumas peças para ilustrar a história. Guardei pouco, apenas o valioso de mim. A limpeza foi completa. Doei roupas, arrumei armários, inovei nos cantos e nos enfeites da casa. Saí de cena e fui para rua desfazer da tranqueira. Quando voltei, abri a porta, respirei fundo e confesso que havia no ar um quê de leveza, mas também uma coisa meio parada. Faltava abrir as janelas? Talvez.
No dia seguinte, o primeiro do meu 5775, Reginete completou a limpeza. Aí circulei pela casa me sentindo a dona do pedaço e feliz com isso. Em cada cômodo, eu vi meus modos, escolhas e esperanças. Depois pensei: “Chegou a alma da casa!”. Claro, a casa sou eu e fico feliz de saber que, nas gavetas e prateleiras, há espaços de sobra para o novo entrar. Então, sim, eu posso sonhar. SHANÁ TOVÁ! Que seja bom e doce o ano novo. 
P.S: se você tiver interesse em saber mais sobre o ano novo judaico é só clicar aqui (é uma postagem que escrevi em 2011).

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

OCORRE



Ocorre muitas vezes. Estou com o computador aberto, trabalhando na correção de um exame, e eis que chega um texto. O título desperta curiosidade e lá vou eu... Faço uma pausa, abro o arquivo – geralmente powerpoint – e viajo numa sequência de imagens de flores em close, rios do outro mundo, cachoeiras, árvores no outono, estradas instigantes, gotas na pétala de uma rosa, pôr-do-sol em tons maravilhosos, abelhas com as anteninhas cheias de pólen...
E a música? 
Essa também tem lá suas facetas. New Age ganha no ranking. Eu gosto. E muito. Portanto, a quem me envia este tipo de mensagem, digo que não me incomodam de jeito nenhum. Até porque, quando estou ocupada por demais, não leio e pronto. E como gosto das imagens e do som, muitas vezes, vou passando e lendo como quem não lê. Ocorre que ler sem ler é uma armadilha.
Outro dia, recebi uma mensagem de pessoa amaaada e, diga-se de passagem, instruída. Abri. Logo começou a música. Gostei. As imagens eram bem anos 60 e 70. Meio batidas, mas vá lá... Nesse ritmo, fui lendo. Meu parecer final foi: “mais ou menos”. 
Voltei ao trabalho. Mas algo ficou me incomodando. Li o texto novamente e achei as pragas que me picaram: nostalgia extrema e idolatria de uma época. O Ministério da Cultura – ou da Educação – deveria advertir: Apego cega.   
Será, meu Deus, que algum dia eu serei como aquele cara? Será que ele não vê que, com o intuito de mostrar quão grandioso foi o seu percurso ou época (?), no final das contas, mostrou desajuste e indignação? Será que eu corro o risco de me acorrentar ao passado a ponto de não enxergar os erros cometidos pela minha geração, nem os acertos da geração seguinte? Tomara que não, porque, por mais bonito que seja qualquer movimento, há erros. E por pior que se apresente o cenário, há avanços. Eu vejo isso em toda parte.
Não quero envelhecer gastando o lápis cor-de-rosa para pintar o passado e o preto para o presente. Quero a caixa de lápis completa. 
Quero todos os verdes para colorir essa gente honesta que inaugura um novo pensamento, mais humano e ecológico. 
Quero usar os azuis para pintar aqueles que mudam os horizontes com muito respeito. 
Quero os amarelos para aqueles que, como girassóis, buscam a luz e não os aspectos sombrios da existência. 
Quero laranja para desenhar a autoconsciência e a percepção de que o prazer é a realização do potencial de vida. 
Quero todas as cores disponíveis. Até o preto, eventualmente, porque é preciso ver o que ainda pode mudar. 
A minha visão de futuro é colorida e mantenho a escolha. Seguirei traçando com minhas convicções e, com meus sonhos, o arco-íris da minha vida.
Quero envelhecer digna dos meus anos e do afeto pelo humano. 
Quero ir além do respeito, da admiração, do reconhecimento. Quero amor. E tem muita gente que sabe do que eu estou falando, gente que também está buscando outras palavras para traduzir o viver feliz e digno.
Quero estar no ritmo do agora. E pensar o bonito. Ocorre! E com você?!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

COM A AVÓ ATRÁS DO TOCO



Hoje acordei com a avó atrás do toco. Pode-se traduzir por “levantei de mau humor”, “levantei de pé esquerdo”, “hoje, tome cuidado comigo”. E não nos acuse, a nós, mineiros, de enigmáticos ou herméticos. Há pelo Brasil muita expressão esquisita. Mas elas dão sempre com a sopa no mel.
Não sei como começou esta expressão, apenas sei que é antiga e que eu a uso para definir quando amanheço com alguma coisa me incomodando e pressentindo o dia. Confesso que preferia não ter esse aviso prévio, mas sempre se faz... Esse dia de cão! Qualquer um tem. Eu também. E foi hoje, segunda-feira, dia 08 de setembro, o meu "dia daqueles". Daqueles que a gente quer esquecer, daqueles a respeito dos quais não é bom falar, daqueles que a gente gostaria que virassem fumaça, algo insignificante, pequenino, um nada. Falando assim, percebo o ridículo da situação. A vida em si já é tão fumaça que passa, já tem tanto sem-graça. Por que tratar de irrelevâncias? Fecho os olhos e respiro. Então, uma risada brota no fundo do meu peito. Acho estranho o som cristalino. Fico sem graça como quem ri num templo ou num enterro. Tão séria e, agora, explodindo em risada?... E passou! Não há choro nem vela. Estou leve agora. A propósito, gosto de uma frase de Clarice Lispector, que convida a confiar: "faz de conta que estou deitada na palma transparente da mão de Deus". É bom o conforto dessa imagem. Agora, vou tomar uma taça de vinho chileno e assistir a um filme na TV, com direito a cafuné (pois é) e moletom velhim esquentando a friagem desse dia. É assim que eu transformo um dia daqueles.