Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

sexta-feira, 15 de abril de 2016

MANHÃS DE ABRIL





As manhãs de abril sempre encantaram minha mãe. Aprendi com ela a olhar o céu azul – de brigadeiro, como dizia – e respirar, de um jeito diferente, a cada manhã, os ares outonais. Nunca entendi os motivos das noivas escolherem maio para se casarem em detrimento desse mês tão lindo!
Olho pela janela e vejo a mesma paisagem, agora, diferente. Há algo mais do que a tonalidade azul do céu, algo mais do que a névoa que sutiliza o recorte dos prédios. Há o mistério das estações.
O outono chegou com sua bagagem e, a cada dia, vai mostrando uns tons envelhecidos, tons de guardados, como se tivessem esperado calmamente o verão colorir a tela e, já desbotados, sair de cena. Vai mostrando que tem cor e sopra. A brisa que me toca traz um frescor também.
O outono arrepia a pele.
Olho para dentro e vejo a cozinha. Sobre o fogão, imagino uma velha chaleira – o outono não combina com o novo, isso é coisa primaveril. Na chaleira, imagino chocolate quente, café com leite, chá, qualquer bebida que aqueça, somando líquido, calor e as lembranças mais antigas, mais amigas. O outono tem gosto e textura. O outono é fofo como um bolo saindo do forno na casa da avó da gente.
Outono combina com os contos de Tchecov
que estou lendo. Tende um pouco para o sombrio, mas soma elegância e originalidade indiscutível. Passo as páginas e respiro fundo. Absorvo a literatura e o romance que me circunda. É a vida real, é outono. Os hábitos mudam.
A Terra girou. O tempo passou. Agora, o outono desfila lá fora e dentro de mim. E eu que nem havia pensado que estréio o outono da vida também! O susto passa como a folha que o vento leva. É bom saber que eu passei o tempo. Não foi só o tempo que passou para mim.