Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

ANJOS POR AQUI?



Gosto de presentear. Principalmente quando vejo algo que me faz lembrar alguém e acho que é “a cara” da pessoa. Meus amigos dizem que sou fácil de presentear também, porque gosto de tudo. É verdade. Mais ainda quando é fora de datas especiais. Assim sem hora e que nos pega de surpresa quebrando a frieza da rotina.
Ele chegou, caprichosamente, embalado para presente e me foi entregue por mãos amorosas. Como sempre acontece quando recebo um presente fora das datas especiais, fiquei sem palavras, calada no meu encantamento. Era um anjo! E ela – a auxiliar de serviços gerais da empresa – me disse:
–A senhora é um anjo, Dra. Regina, que entrou em minha vida! Então comprei um para protegê-la.
Eu, anjo? Tem tantos escritos sobre isso. Que ninguém entra em nossas vidas por acaso. Se não for bênção é lição... Enfim, parei de pensar e acolhi emocionada a fala.  
 Aquele não era o anjo que eu tinha no meu imaginário. Se fosse para ter um, queria ele todo branco. Simples assim. Não digo que ele se destinava a ser apenas um enfeite, porque tenho cá a minha fé, mas digo que ficaria ótimo num certo canto da casa. Ainda bem que não recebi o anjo imaginado. O imprevisto tem mais beleza.
O anjo que ganhei conquistou o meu coração e outro canto. Agora fica aqui, ao meu lado, observando o meu trabalho. Suas vestes são brancas com detalhes dourados, um luxo limpo e iluminado. Numa mão, traz um bouquet de lírios e quase posso sentir o perfume exalando-se. Adoro lírios brancos. Na outra mão, o anjo carrega um papel que, para mim, é prenúncio de boas novas. As asas são puro acolhimento. Só de olhar, fico em paz. O rosto que é sério, para mim tem um quê de responsabilidade acrescido de suavidade.
Sim, eu viajei na imagem. E fui mais longe: procurei saber mais ainda sobre o Arcanjo Gabriel.
Li que ele é o portador das grandes mensagens divinas aos homens. Fiquei me perguntando que sinal seria esse, porque, afinal de contas, acredito nos sinais que vem de lá.
E se quase me constranjo por refletir tanto sobre o que, para muitos, seria apenas um objeto, acabo por concluir que o que vejo ali é o reflexo do que carrego. Projeto na resina endurecida a suavidade da minha alma. Se eu invento que ele me trará boas notícias, é porque, no fundo do meu coração, espero por elas e acredito que virão.
O que me resta dizer? Apenas que o presente inspirou os meus melhores pensamentos. Isso é muito. Isso é bom. E basta. Sou pela grata surpresa! 
Se sou ou não anjo, isso já é uma outra história.