Não importa onde estamos, numa mesa de bar ou no divã do analista, nossa mente nunca para e nossos medos e desejos nunca nos abandonam. Nem por um instante nos separamos do que realmente somos e, por mais difícil que seja, não controlamos cem por cento nossas atitudes. Se Freud, após 40 anos de estudo da mente humana, continuou com várias dúvidas sobre o ser humano, quem sou eu ou você para julgar as “crises histéricas” da melhor amiga? Só Freud explica!?!
Coisas simples que todos vivemos,pensamos,sentimos e nem sempre conseguimos partilhar. Assuntos, temas, extraídos da minha experiência clínica e do meu cotidiano. Em alguns você pensará: tô fora... Em outros: tô dentro...

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

FIM DE ANO

O último texto escrito foi em julho. E assim passaram-se os meses, o ano! Hoje atravessei a rua. Não o fiz como quem segue com pressa para um compromisso. Atravessei a rua ciente dos meus passos, atravessei como escolha pelo diferente, para colocar a vida em movimento. Um exercício banal que desconsertou a rotina e tocou minha alma. Atravessar a rua me vez pensar.
Nesse ano, quantas ruas, avenidas e praças atravessei? Quantas vezes subi e desci escadas? Quantas vezes segui sem notar o tempo, os transeuntes, os cães, a morada do mendigo? Quantas vezes segui sem noção de que o tempo está no meu encalço e de que a pressa só nos torna mais íntimos? Quantas vezes segui sem saber que estava sempre no mesmo lugar? 
Hoje não! Atravessei a rua, segui ladeira acima e olhei para o céu, vi promessa de um dia quente; depois, olhando para baixo, vi meus pés. Um, depois o outro.
Adiante, vi uma moça seguindo tão rápido quanto um segundo. Aí, vi a vida passando. E vi que a vida pode ser simplesmente uma história de ruas e pontes, de estradas longas e atalhos, de escolhas, de erros e acertos, de seguir em frente e voltar atrás.
Posso falar de quedas, de cicatrizes, de tropeços e medos, posso falar de palavras e cabelos ao vento, de encontros e despedidas, de sapatos novos, apertados ou com a forma do pé; posso falar de lugares onde nunca estive, de lugares onde deixei pegadas e que deixaram marcas em mim, de lugares onde volto sempre e de outros para onde não desejo voltar.
Hoje, não fiquei preocupada com o ano novo que logo chegará, com o recomeço, com a novidade, não esbarrei na presunção de conhecer essa estrada ou no orgulho de uma trajetória enfeitada.
Estamos todos a caminho, vamos seguindo para algum lugar diferente, para outras conquistas ou, simplesmente, estamos voltando para casa. 2018 não é outro ponto de partida, é o destino se cumprindo. A história continua, a estrada continua e, agora, eu quero por os pés nos chão.
Um feliz natal a todos vocês, com muita LUZ e que a caminhada por 2018 se faça leve, mas com pegadas de amor e paz e para todos!!!

terça-feira, 18 de julho de 2017

Sobre a tristeza...acontece!



“Aquele que nunca viu a tristeza nunca reconhecerá a alegria.” (Gibran).
Na última sexta-feira não fui à aula de dança. Carinhosamente minha ausência foi sentida e questionada no grupo de whatsapp, no que respondi: de-sa-ni-ma-da, acontece! O desânimo era só uma das roupagens da minha tristeza. Amanheci descolorida. Sem tom nem sobre tom.
De repente nada mais faz sentido. Nem cheiros, nem sabores... Nada. E nada é tudo que resta.
Posso afirmar que, via de regra, estou bem humorada e alegre. Não careço de muito para me deslumbrar a cada amanhecer!
Mas, de vez em quando, por razões que nem sempre identificamos, a luz da alegria se apaga.  E a tristeza, uma dor, chega de mansinho e sem perceber invade-nos e nos dilacera.
Há dias em que, simplesmente, queremos ficar quietos, em estado de inércia e isso não exige um estudo minucioso sobre o comportamento humano. Quando Freud escreveu “O mal estar na civilização” (1930) e defendeu a tese de que “o indivíduo é um ser infeliz, e que esse mesmo indivíduo vive à mercê de uma infelicidade permanente”, o psicanalista não se referia a todo comportamento humano, mas a determinados momentos de infelicidade que todos enfrentam. O problema está na (errada) interpretação que fizeram do tema.
Alegria e tristeza são sentimentos que fazem parte da vida psíquica normal de qualquer ser humano. A tristeza é a resposta humana às situações de perda, derrota, desapontamento e outras adversidades, ou seja, é normal sentir-se  triste após  uma situação desagradável, a perda de um ente querido, desajustes financeiros, ou mesmo quando não realizamos sonhos desejados.
Atualmente é proibido estar triste. Fato! Algumas lágrimas são motivos para remédios tarja preta ou filas gigantescas na porta dos consultórios. A supervalorização do estado de felicidade no ser humano é demolidora, porque traz consigo a obrigação em estar feliz o tempo todo, nos fazendo esquecer que a felicidade não é rotineira e que, segundo o próprio Freud, nunca chega a nos pertencer! Ser feliz é diferente de estar feliz e entre essas definições existe uma ponte gigantesca. Mas o homem busca incessantemente ser feliz, como um objetivo de vida, esquecendo-se de viver as outras emoções da vida. “A felicidade é efêmera por definição. Por isso, as pessoas que só pensam nela sofrem muito mais e se distanciam das pequenas alegrias da vida”, afirma o escritor francês Pascal Bruckner, autor do livro A Euforia Perpétua (Bertrand Brasil, 2002).
.Será que a sociedade contemporânea valoriza ou despreza toda e qualquer tristeza?  
Infelizmente, nossa sociedade corre de qualquer sinal de tristeza. Nossa sociedade valoriza a felicidade em qualquer momento e a qualquer custo. Qualquer sinal de tristeza deve ser escondido a sete chaves!
Tristeza tem fim sim, mas é inevitável e, uma vez que ela chega, deve ser tratada como hóspede importante. Poucos percebem que a sensação de estar triste é tão benéfica quanto à felicidade. Tristeza é um sentimento que responde a estímulos internos, como memórias e vivências e isso permite que haja amadurecimento emocional e busca de soluções para acabar com essa situação emocional. A verdade é que a aprendizagem proporcionada pela tristeza é algo enriquecedor e resta-nos viver (e amadurecer) enquanto ela insiste em permanecer em nossos dias.
“A gente está alegre, não é alegre. Porque esse sentimento não se mantém para sempre. Surge, colore o mundo e some feito bolha de sabão. Quando se está triste, bom saber, acontece igualzinho.” (Rubem Alves).
Assim, com a sabedoria de Rubem, fico mais tranquila e aos poucos o colorido retorna para a tela da minha vida!

sábado, 11 de fevereiro de 2017

ESCOLHAS DE SER

Ondas elevam-se e, em seguida, arrebentam-se. Entre uma e outra, fica uma lacuna, um fragmento de segundo, em que o que há é o nada. Mas o tempo passa e outra onda sempre vem... E vai. Como, aliás, quase tudo na vida. Na transitoriedade dos momentos, o que há de perene é o espírito, são os sentimentos, é o conhecimento. O resto passa. E se quase tudo passa, neste sábado que parecia vazio de opções, escolhi o bonito e mais duradouro para mim. E o leque da felicidade se abriu em escolhas.
Primeiro, uma tarde de cochilo merecido, que não foi bem uma escolha, mas um imperativo do cansaço de noites insones. Depois do sono, banho morno com aquele sabonete especial, roupa velha, de ficar em casa, mas que conta histórias se falasse. Um canto ventilado, uma taça de vinho e a constatação, abismada, que já estou no segundo mês de um novo ano. Assim, como só acontece quando se desacelera, o tempo passou a fluir.
Aproveitar o tempo não tinha mais importância e eu fui chegando mansa de onde estava brava, lá, onde a vida me ocupou demais. Desocupei-me felizmente.
Fiquei feliz. Nesse sentimento, não tinha nada de euforia, de alegria, do entusiasmo de um encontro inesperado. Tinha a paz de ser e a opção de estar. Primeiro, fiquei quieta, observando, para não assustar a fera em repouso. Depois movi-me devagar...
 
Devagar e sem premeditar, fui até a gaveta dos bons guardados e, de lá, resgatei  um incenso suave, uma vela de mel, presentes de pessoas queridas. 
O meu canto ganhou vida e minha vida mais sentido. 
Reencontrei um CD que pensei desaparecido e senti a eternidade soar em mim. Viver com o coração aberto é ter boa companhia. 
De um jeito ou de outro, algumas pessoas estiveram comigo e eu compartilhei minha felicidade com um mundo de gente. Sinta-se comigo também, porque estou em cada palavra.